Ser professor é…

Mais especificamente, ser professor de matemática do ensino básico (8º e 9º anos) é essencialmente:

1. Deparar com alunos com imensas dificuldades e com uma enorme falta de bases matemáticas. Só para se ter uma noção, poucos são aqueles que sabem calcular a área de um rectângulo, quanto é “quatro ao cubo”, somar duas fracções, dizer inequivocamente quanto é 5 – 12, resolver um problema simples que envolva apenas uma subtracção ou a tabuada (o resultado das pedagogias científicas que dizem que nada pode ser decorado e que tudo tem de ser aprendido de forma lúdica é perguntar quanto é 8×4 e dificilmente obter a resposta certa). No entanto, fruto das medidas educativas que evitam os chumbos a todo o custo e de um facilitismo avaliativo de muitos professores que autenticamente oferecem notas para não se chatear, estes alunos vão passando de ano, mesmo que dotados de uma ignorância profunda (só mais tarde, estes alunos irão perceber que são eles as principais vítimas deste sistema educativo facilitista e perverso). Isto está de tal forma que há exemplos na minha escola de alunos que chegam ao 5º ano sem praticamente saberem ler nem escrever (!!!).

2. Gerir uma multiplicidade de conflitos no seio da turma, com uma quantidade grande de alunos desmotivados, desinteressados e que não percepcionam na escola uma verdadeira utilidade prática.

3. Sempre que necessário, agir disciplinarmente, sabendo (professores e alunos) que a consequência prática e correctiva destas medidas é praticamente nula. Isto porque por mais faltas disciplinares que um aluno tenha, pouco mais pode acontecer do que efectuar trabalho comunitário durante uns dias (se os pais deixarem, senão o menino fica apenas suspenso, ou seja, férias antecipadas) dado que medidas como a expulsão estão completamente fora dos regulamentos (talvez aí os alunos pensassem duas vezes antes de pisarem o risco, mas não pode ser porque, como diria Eduardo Sá de forma mais eloquente, seria uma experiência verdadeiramente humilhante e traumática, que desrespeitaria o direito fundamental da criança). Tenho o maior respeito e consideração por alunos com casos familares conturbados e provenientes de um meio social muito complicado (só uma pessoa fria e cruel não teria). Mas, mesmos alunos nessas condições, têm de perceber, a bem ou a mal, que a escola é uma oportunidade que não pode ser desaproveitada, que há regras a cumprir e que há (deveria haver) medidas verdadeiramente severas para quem prevarica. Sob pena de, como acontece, o conceito de “escola inclusiva” ser uma farsa. Que raio de “escola inclusiva” é esta que premeia e dá múltiplas oportunidades aos alunos mais indisciplinados, enquanto aqueles que cumprem, se esforçam e se empenham são dia após dia prejudicados pelo comportamento perturbador e recorrente dos primeiros? É o que dá quando certas leis são elaboradas por gente que não faz a mínima ideia do que é a realidade escolar no seu quotidiano, muito menos do que é o fenómeno da turma e das múltiplas variáveis que lhe estão associadas.

4. Preparar provas de recuperação para um aluno que falte permanentemente, sabendo que, mesmo que ele reprove uma ou duas vezes, a possibilidade de, nestas circunstâncias, chumbar por faltas está sujeita a um longo processo burocrático (que mesmo assim pode não conduzir a nada, pois há sempre pressões fortes para que este não se concretize, nomeadamente algumas usando “falhas” na lei). Ou seja, foi a forma genial encontrada pelo Ministério de ninguém chumbar por faltas, mesmo dando a ideia de que isso supostamente acontece, encarregando os professores de todo o procedimento legal em redor deste embuste.

5. Preparar e pôr em prática criteriosamente planos de acompanhamento e de recuperação, respectivamente para alunos repetentes e/ou em risco de chumbar pelo número elevado de negativas. Há casos onde se percebe essa necessidade, por serem casos com reais dificuldades, que precisam e merecem um acompanhamento mais directo, mas, em muitas situações, este insucesso deve-se muito a falta de estudo, de atenção nas aulas e de esforço (sim, porque aprender exige esforço e sacrifício – essa ideia de que tudo tem de ser aprendido de forma divertida e natural é mais uma das grandes falácias da “escola moderna”) e, nesses casos, estes planos de acompanhamento são mais um exemplo que demonstra a importância excessiva que se dá a quem não dá valor à escola e ao conhecimento, enquanto se despreza os bons alunos que, à custa de mérito próprio, vão tendo verdadeiro sucesso educativo (mas que ficam com a sua evolução limitada pelas prioridades da escola actual – Ken Robinson tem toda a razão: a escola anda mesmo a matar a criatividade e o desenvolvimento de muito boa gente)

6. Tentar encontrar mecanismos diferenciados de avaliar e/ou abordar os conteúdos programáticos a alunos com Necessidades Educativas Especiais ou em Currículos Alternativos.

7. Dar aulas de Área Projecto (a importância desta e de outras Actividades Curriculares Não Disciplinares daria uma análise interessante, mas demasiado longa para se enquadrar neste texto).

8. Participar em múltiplas reuniões, muitas vezes inócuas, mas obrigatórias perante a lei, onde se analisam mil e um aspectos de natureza burocrática referidos anteriormente.

É tudo isto (escapei a aulas de substituição, mas, ainda assim, devo-me ter esquecido de outras coisas) e não sou director de turma. Porque se fosse, teria ainda de, para além de ter uma proximidade maior com a turma e contactar e receber os pais (uma missão interessante, pois permite-nos ter um conhecimento maior do percurso individual dos alunos e o seu enquadramento familiar e socio-cultural, ajudando a perceber certas coisas e a tentar ser útil na orientação do seu futuro), coordenar administrativamente todo o procedimento atrás descrito, no que se refere à assiduidade, ao comportamento, à disciplina e ao aproveitamento, para além de orientar outros aspectos diversos (o dossier respectivo, o Projecto Curricular, as reuniões de conselho de turma, etc). Para todo esse trabalho de direcção de turma, o professor tem no seu horário, para desempenhar esta função, a módica quantia de… 90 minutos semanais (!!!).

Ah!!! Já me esquecia. Quando tenho tempo, quando as minhas missões de educador de infância, psicólogo ou funcionário administrativo me permitem, também consigo, em cerca de 10% do meu trabalho, preparar minimamente as aulas e ensinar matemática do 8º e do 9º anos (para além, naturalmente, de me preocupar com os instrumentos de avaliação). Mas tenho que dizer isto baixinho para que os peritos do eduquês não me ouçam. É que palavras como “ensinar”, “explicar” ou “expor” são para eles termos quase criminosos. Porque, qualquer dia, na forma como as coisas têm evoluído, escola e conhecimento serão conceitos que só tenuamente se interceptam. Porque a escola deixará definitivamente de ser um local onde se aprende e onde se ensina, para ser apenas um espaço de motivação e de vivência. Com estes pressupostos e com o anunciado e vergonhoso aumento da escolaridade obrigatória até ao 12º ano, não é preciso ser grande visionário para que se preveja que, cada vez mais, cheguem às universidades verdadeiros analfabetos. Mesmo que não no sentido literal, pelo menos do ponto de vista cultural, formativo, comportamental ou cognitivo.

Assim sendo, atendendo aos factores que referi anteriormente e ao ordenado relativamente reduzido que se recebe (têm razão os críticos quando dizem que os professores têm um ordenado chorudo: 950€ limpos numa primeira fase é, de facto, uma verdadeira fortuna), parece-me que só pode ser professor do ensino básico quem tem uma vocação absolutamente única para a multiplicidade de tarefas em redor da profissão, capaz de contornar e de superar com facilidade todos estes obstáculos profundos, quem não tem habilitações ou capacidade de desempenhar outra função na sociedade ou quem é estúpido. Como, apesar de ter gosto em ensinar, não tenho essa capacidade de ignorar e me conformar alegremente com toda esta situação e, felizmente, tenho habilitações e capacidade para desempenhar outras tarefas profissionais, não me parece que faça muito sentido continuar a ser professor do ensino básico. A não ser que seja estúpido…

P.S. Escrevo este texto numa altura em que acabo de corrigir 74 testes, tendo havido 8 positivas. Tenho perfeita noção que, à luz do sistema e independentemente da falta de bases e métodos de estudo dos alunos e da sua falta de atenção, esforço e empenho, a responsabilidade destes resultados é minha e só minha, por não os ter motivado convenientemente. Mas, claro, é fácil obter a redenção. Basta que assuma o meu pecado e premeie o fraco desempenho com óptimas notas, contribuindo para o “sucesso” educativo português . Nesse instante, tudo me será perdoado e passarei de imediato a ser… um “bom professor”.

Esta entrada foi publicada em Uncategorized. ligação permanente.

56 respostas a Ser professor é…

  1. É bom ver um texto destes e de um professor novo! Quanto ao Eduardo Sá e outros eduqueses… não digo nada, e eu que tive “aulas” com ele.

    Pedro

  2. caramelo diz:

    João Torgal, com sua licença, vou aqui transcrever um comentário ao seu texto que coloquei no Mar Salgado:

    Está muito bom. Concordo com quase tudo. Só não concordo com os chumbos. No ensino básico. Que façam exames de admissão rigorosos à Universidade, aí sim. Acho eu, que não sou pedagogo.
    Fico espantado com essa de alunos no 5º ano sem praticamente saberem ler nem escrever. É assim, literalmente, ou é no sentido vascopulidovalienteano, de se ser analfabeto por não saber ler Horácio em latim?

  3. RResende diz:

    Não está sozinho. Eu apanho os melhores desses alunos no primeiro e segundo anos da universidade e eles não sabem tabuada, não sabem escrever, não sabem falar, não sabem que uma aula é para trabalhar.

    Tenho a missão facilitada porque se tentam armar em espertos comigo os mando passear ao bar (não costuma ser preciso) e ninguém me vem pedir explicações. Acho que se tivesse no seu lugar era despedido em 15 dias!

  4. João Torgal diz:

    Tem naturalmente toda a licença e agradeço-lhe o elogio. Ficam apenas alguns comentários pessoais às questões que colocou:

    1. Os chumbos são uma ferramenta essencial para controlar o nível de conhecimentos e de capacidades dos alunos. Grande parte do motivo pelo qual se chegou a este grau de ignorância e de falta de bases tão descarado é por não haver uma exigente e efectiva triagem, verdadeiramente necessária a um ensino de qualidade, que tem em conta o mérito e o esforço e que não é elitista. Premeia e retém quem realmente merece. Se isso não acontecer, dá-se demasiados sinais aos alunos para optarem pela tentação do mais simples, pela lei do menor esforço, o que, como descrevi, tem resultados catastróficos. Até porque um sistema de ensino tem de ser coerente: não pode ser facilitador durante 12 anos de ensino e apenas rigoroso no acesso à universidade, sob pena de perder toda a credibilidade.

    2. É mesmo literal. No sentido de não saberem ler fluentemente um texto, nem saberem escrever nada com nexo (por isso é que disse “praticamente”). Muito mais do que não ter um nível de escrita e leitura regular. Porque, quanto a esta última ideia, expande-se facilmente para todo o ensino básico. Porque, por exemplo, “expressar” pode ser, em português moderno, “esperçar”…

    • Joana Paupério diz:

      Caro Professor João Torgal,

      Estou a contactá-lo em nome do site EDUCARE.PT.
      No seguimento do seu post teríamos todo o interesse em entrar em contacto consigo. Para o efeito, venho por este meio solicitar o envio do seu endereço de email ou número de telefone para assistente@educare.pt .
      Fico a aguardar o seu feedback.

      Os meus cumprimentos,

      Joana Paupério
      Educare.pt

  5. Carlos Barros diz:

    Caro João,

    Enquanto pai de uma aluna do 6º ano é precisamente a percepção que tenho do ensino actual, a descrição que faz.
    Mas não desista! Li recentemente a história, a feliz história, do Daniel Pennac. São precisos professores salvadores! Apaixonados pelas matérias que leccionam. E pelos alunos com dificuldades. Mas mais, talvez, pelos bons alunos.

    Um abraço,

    Carlos Barros

  6. Pingback: Pela Blogosfera – A Mesa de Café « A Educação do meu Umbigo

  7. Caro debutante sugiro-lhe que leia este pequeno post:

    http://ordemdostitulares.blogspot.com/2009/03/educacao-dos-anormais.html

    No Blogue da Ordem encontrará muitos e variados posts que estão ali para o ajudar.

  8. melga diz:

    mas Pedro Monteiro, precisamente deveria dizer. porque esta cambada que nos governa e nos formata só tem porcaria na cabeça nas atitudes e na conversa e sabe que como nunca nos mexemos eles estão bem e continuam……..

  9. melga diz:

    mas sabe Carlos Barros, os que têm a sua percepção são poucos. se um professor exigir silêncio e respeito para dar e desenvolver o programa está feito. os pais na sua maioria sempre pensam que os meninos têm de gostar de tudo por que é meio caminho andado, como se costuma ouvir dizer. estes pais não entendem o mal que fazem aos filhos. somos muito somos todos os que de facto queremos ensinar e trabalhar para os nossos alunos mas meteram-nos muitas coisas na cabeça. e sai asneira. a todos e de todos os lados.

  10. melga diz:

    Caramelo, é assim mesmo. numa turma de 22 este ano tenho 8 analfabetos funcionais. mas quatro, nunca recuperarão. 20 anos de ensino ensinaram-me isso. existem coisa que se fazem até x tempo, depois nunca mais. assume isto quem quiser, mas poderia começar a lista dos pedagogos que se fossem vivos me cairiam em cima. e nunca mais daqui sairíamos e não pense que faço menos para eles mesmo pensando assim. antes pelo contrário. em dado momento sei que dirão que tiveram quem tivesse lutado com eles. ao seu lado. e os números que dei sou eu a ser tolerante, mesmo assim…..

  11. melga diz:

    para dizer que ser professor é ainda gerir apoios, palnos de recuperação programas PIC e PNEPS e BECRES e PNL e PNM.

    enfim…triste vida.

  12. melga diz:

    e tenho pena de ver ao que assisto na sala de professores da parte de colegas novos.

    esta geração de professores, por favor, não é bem.

    e não conhecendo eu João Torgal, oxalá conserve a sensatez, inteligência coerência e coragem que parece ter.

  13. melga diz:

    uma coisinha mais e vou.

    chumbos, sempre.

    exames a todas as disciplinas.

    todos os anos.

    a partir da 3ª classe.

    fui

    fiquem bem

  14. Filomena diz:

    Olá João

    Espero que estejas melhor e que não seja necessário operação! Cuida-te e descansa.
    Li com muita atenção o teu texto e revi-me no meu início de carreira há 30 anos atrás. Ainda não havia “eduquês” mas já havia muitos lobbys nesse sentido. Feitos por quem? Vão-me trucidar mas …
    Sim, essa ideia veio de colegas professores. Aqueles que aproveitaram a confusão pós 25 de Abril e que, com o correspondente ao actual 9º ano, foram dar aulas de tudo e mais alguma coisa sem habilitações convenientes. Esses que se reformaram com 50 anos com reformas completas, que se infiltraram no sistema, nos sindicatos, aproveitaram todas as comissões de serviço no ME, no E. Especial, que já não dão aulas há “bué” de anos (parafraseando os nossos alunos) mas que decidiram que somos todos iguais, i.e. “nós”, os professores, os que têm o antigo 5º ano, ou licenciaturas de 3 anos, licenciaturas de 5 anos, mestrado ou doutoramento. A esses sim, e não uma qualquer entidade “ME”, são os verdadeiros responsáveis por este estado de coisas. Não estão para se incomodar, ganham bem mais do que tu ou eu pois não trabalham nem metade. Quantas aulas de AP / EAC eu dei com outros (dos tais) que apenas à porta da sala me perguntavam: O que vais fazer hoje??
    Estou contigo na responsabilização de todos por uma escola de qualidade. Exija-se qualidade aos professores com aulas bem preparadas, materiais actualizados, métodos eficazes, avaliações exigentes, exija-se trabalho e correcção aos alunos dentro e fora de aula, exija-se responsabilidade aos pais e EE pelas atitudes dos filhos. Eu e tu fomos preparados para ensinar, explicar, tirar dúvidas, abrir horizontes, (o que pode ser feito de modo diferente, combinando desafios, interesse, curiosidade e trabalho dos alunos).
    Numa coisa não concordo contigo. Não ganhamos nada com os chumbos. Repetir o mesmo, da mesma maneira, dado da mesma forma pelo mesmo professor, desculpa lá mas não leva a nada! E sai caro (sim também faço contas aos custos).
    O que proponho? esses alunos devem ser encaminhados para outros percursos, sem necessidade de “autorização dos EE” (eu também não sou chamada para dar autorização ao dito para ele educar mal o seu filho). A escola tem objectivos, regras e finalidades e se uns conseguem fazê-lo por um percurso normal em 12 anos (sim, concordo com todos na escola e pelo menos 12 anos), outros provavelmente deverão progredir de um modo mais lento, mais virado para a componente prática. Não faz qualquer sentido todos terem de fazer um único percurso e se não conseguem “Chumbam”.
    Como dizia um amigo que não é professor, “Vocês recebem na escola por exemplo um pássaro, um coelho, um peixe, um leão, uma chita. Com o currículo que propõem, no fim da escolaridade estão todos iguais, todos sabem qualquer coisa, mas o pássaro deixou de saber voar, o coelho deixou de saber saltar, o peixe deixou de saber nadar, o leão deixou de saber rosnar e caçar, a chita deixou de saber correr”.
    Eu continuo a ter esperança. Nós estamos a percorrer as etapas que os países do norte já fizeram há mais de 100 anos. Não posso acreditar que os meus filhos, os meus alunos, não têm futuro neste país.
    Beijinho e melhoras

  15. Pingback: Retrato da “escola inclusiva” em Portugal (4) « O Insurgente

  16. rui gonçalves diz:

    Vou ser pai em breve, e estou muito preocupado com a instrução que o meu filho vai ter. note-se que utilizei o termo “fascizante” de instrução e não educação. Educação dou-lhe em casa, junto com a minha esposa. Estou a me preparar para fazer o apoiar ao máximo na sua instrução.

    Estou também consciente que o grande mal da instrução em Portugal não é exclusivamente dos professores. Mesmo na universidade lembro-me que os meus colegas tinham um nivel cultural nivelado por baixo. A culpa também é deles, dos pais, da politica educacional e também dos professores. Ninguém sai ileso!

  17. Jaculina diz:

    E que tal uma aluna do 12º que mal consegue soletrar uma frase simples e segue o texto com o dedo?

  18. Domingos Lopes diz:

    JFT, li com muito interesse o que escreveste. Creio que já tinhas ideia do que te esperava, mas é sempre diferente quando se vive essa realidade. Espero que nunca te falte a vontade de ensinar e, já agora, que o sistema melhore pelo menos um bocadito. É meter exames nacionais para cima deles!! Passados alguns anos da escola, considero que todos os exames que fiz não foram em vão. Se tivesse tido mais, certamente não teria opinião diferente. Eu já sabia, mas mais uma vez confirmei que tens jeito para escrever.
    Abraço

  19. Elsa Castro diz:

    Caro João:

    Ainda bem que desabafa, pois é sinónimo de que não está indiferente aos problemas, nem deixou que o desânimo o levasse a cruzar os braços.
    Recordo o tempo, não tão distante, em que os professores ensinavam e exerciam naturalmente a sua autoridade, quer didacticamente, quer disciplinarmente, e em que os alunos aprendiam e transitavam de ano ou então reprovavam. Não considero que se trabalhasse para a exclusão, visto que nem todos têm vocação ou apetência para o prosseguimento de estudos e que há muitas áreas do saber que estão subaproveitadas, com consequências nefastas para o funcionamento da sociedade e para a própria economia. Considero sim que o facilitismo que se implementou no ensino e a progressiva desautorização dos docentes têm, e terão cada vez mais, resultados perigosos e danos irreversíveis. Creio, no entanto, que os professores têm que se impor e lutar para que tal situação se altere, o que não se tem verificado. Cabe-lhes lutar pelo sucesso dos alunos, o que, estou em crer, sempre foi feito, mas sem compactuar com medidas absurdas, sem falaciar os resultados e sem perder a sua dignidade.
    Lute contra a sua desmotivação e lute pelo sucesso real dos seus alunos.
    Boa sorte!

  20. CMF diz:

    Não podia concordar mais com o colega João!

    Quando terminei o curso passei 2 anos a saltitar de escola em escola, em algumas andei a recibos verdes em outras andei a tapar buracos dos professores com licenças de maternidade e baixas médicas por esgotamento nervoso…
    Este ano finalmente fiquei colocada logo no início do ano lectivo (aleluia…) e a expectativa era grande. Grande alegria… para logo de seguida grande desilusão…!

    Colocaram-me como Directora de Turma de uma das piores turmas daquela escola! Aquelas turmas em que nenhum professor quer leccionar: alunos problemáticos e indisciplinados, com idade fora da escolaridade obrigatória (alguns já com idade para estar a caminho da faculdade e ainda no 8º ano), alunos com um percurso de vida dramático e meio sócio-económico mais que desfavorecido. Como já devem adivinhar, ninguém naquela escola quis ficar com a turma! Por isso colocaram um Conselho de Turma todo novinho em folha (em idade, em experiência e mesmo em relação à escola) e mandaram-nos ao “leões”!
    E como valentes “gladiadores” lá fomos nós, cheios de expectativa e fé, a pensar mudar o rumo daqueles alunos. Mas as coisas são bem diferentes… e desmotivantes.

    Hoje sinto-me mais uma Assistente Administrativa do que uma Professora, pois os problemas e as papeladas burocráticas que uma turma deste género deixam para um professor (DT) é quase como carregar o mundo… mais saturno e júpiter às costas! E tempo para leccionar?? Para dedicar às restantes turmas? Aos alunos que querem aprender e se dedicam? Tempo para preparar aulas diferentes e dinâmicas?? Tenho que tirar ao meu próprio tempo, ao tempo familiar, ao tempo de almoço e jantar, ao tempo do sono abençoado para repor forças, ao tempo criado por magia para tal fim, porque esse tempo não está previsto no meu horário nem é remunerado.

    E quando se tenta fazer algo para mudar o panorama geral de indisciplina e fracos resultados, “cortam-nos” logo as pernas! Até os próprios alunos sabem que podem fazer o que quiserem, porque eles têm a “faca e queijo na mão”… Pior, eles regozijam-se mesmo com isso. É triste, mas é a realidade.

    É frustrante ser professor hoje em dia quando tudo caminha para longe do que é mais importante: Ensinar verdadeiramente e fazer dos nossos jovens melhores cidadãos. Mas como Professora em início de carreira também digo: Não desisto! Venham “leões”!
    Neste momento podemos nadar contra a maré… Mas tentamos fazer a diferença!

    Ao meu Conselho de Turma só me resta esperar união e força para passar este ano! Aos meus alunos um rasgo de esperança para que comecem a vislumbrar a realidade como ela realmente é, para que aproveitem o que de melhor os professores têm para dar e que sigam as suas motivações.

    Um abraço e bem hajam todos os professores que não desistem!

  21. Namorado duma Excelente Professora... quase em esgotamento... :( diz:

    Não sou professor, mas na minha profissão também comecei com grandes expectativas (ilusões) até perceber a mediocridade daqueles que estão “por cima de nós” e que nada fazem para melhorar o estado das coisas, por não estarem à altura do desafio! Por isso parabéns a todos os professores e directores de turma que não desistiram, pelo empenho e a determinação inabaláveis que têm, para enfrentar essa verdadeira maratona interminável, que é tentar leccionar no meio de tantas adversidades! Nunca desistam e se não conseguirem ensinar, tentem pelo menos marcar pela diferença alguém! Nem que seja um desses putos ranhosos que vos boicotam as aulas, pois eles podem até sair tão burros como entraram, por sua inteira (ir)responsabilidade, mas pelo menos poderão ter aprendido uma lição muito importante… que nada se consegue sem esforço… e que o esforço terá sempre muitas e boas formas de ser recompensado… no presente, mas especialmente no futuro! Querem um futuro? Então putos… esforcem-se e façam por o merecer… e trabalhem que não é a jogar Playstation que se vão fazer Homens (com H grande!)!!! Professores não desistam de dar lições, sejam elas quais forem… o futuro do N/país precisa de mais e melhor formação (seja ela qual for) e sem vocês e sem alunos motivados, não vamos nunca deixar de ser… mais um país do “Norte de África”! A V/tarefa não é fácil e não queiram mudar o mundo num só dia, mas todos os dias podem ir fazendo pequenos milagres! Bem hajam e quando andarem desmotivados, lembrem-se duma coisa… dos (poucos) mas bons professores que já tiveram e que nunca se vão esquecer e lutem também por esse estatuto grandioso e de grande dignidade! 😉

  22. Pingback: Retrato da “escola inclusiva” em Portugal « O Insurgente

  23. Pingback: Compreender Pisa. « BLASFÉMIAS

  24. Pingback: Retrato da “escola inclusiva” em Portugal (2) « O Insurgente

  25. Em Portugal…

    O nosso sistema escolar
    é uma boa caricatura
    desta política exemplar
    com tanta falta de cultura.

    Neste esquema ficcional
    do sucesso educativo
    revela-se a razão banal
    de cunho assaz defectivo.

    Aproveito para acrescentar…

    Estando bem amarrados
    e sem flexibilidade
    ficaremos desterrados
    da real civilidade.

    Mascarados de intrepidez
    tapando males disfarçados,
    daqui emerge a acidez
    de muitos feitos esforçados!

    São tantas palavras cansadas
    sobre problemas por resolver,
    as esperanças reforçadas
    de alegrias por devolver.

    (com o respectivo “link” no meu blogue)

  26. Morgan diz:

    Ensinar Matemática? Qual? Os meninos não sabem a tabuada! Decorar? Nem pensar! MAS… nos colégios particulares, os sérios, as coisas não acontecem dessa maneira. Aí, não há encarregados de educação a mandar; não há representantes das autarquias a pôr e a dispor. Quem exerce a autoridade são so professores. Depois, é só olhar para os resultados. Ah… aparecem umas mentes a dizer que escolhem os alunos; em certos casos poderá ser verdade. Conheço um em particular – aí não escolhem os alunos nem fazem qualquer tipo de exame; o Director Pedagógico tem uma conversa com os pais ou encarregados de educação e informa-os como é o ensino… ou querem ou não querem mas ao inscreverem o educando já sabem com o que contam.

  27. Pingback: Retrato da “escola inclusiva” em Portugal (3) « O Insurgente

  28. Caro colega:

    Excelente post, embora se tenha esquecido de milhentas coisas que, como, docentes somos obrigados a fazer (o preparar aulas e reuniões, a preparação e realização de visitas de estudo, as reuniões de Grupo e Departamento, etc., etc., etc…).

    O Blog Geopedrados pede desculpa por publicar este post, indicando origem e autor…

  29. Pingback: Retrato da “escola inclusiva” em Portugal (5) « O Insurgente

  30. lucklucky diz:

    Os chumbos são essenciais :

    http://www.freep.com/article/20100205/COL10/2050352/Reading-gives-DPS-grad-voice-and-choice-in-life

    …Amiya Olden, 22, of Detroit graduated from Denby High School but couldn’t read her diploma…

    …Amiya Olden, like many students in schools across Michigan, suffered a kind of child abuse that the state Legislature not only allows but supports: social promotion….

    resultado (aparente, pois as burocracias têm muitas meniras de dar a volta):

    Robert Bobb: No more unearned promotions for students.
    DPS to end practice of advancing kids who aren’t ready.

    http://www.freep.com/article/20100212/COL10/2120380/?imw=Y

  31. Contra académicos diz:

    Não sou professor, nem pai, mas parece-me que o ensino em Portugal assenta sobre vários equívocos e um modelo que, no essencial, se mantém idêntico ao do século XIX. Um modelo assente numa dicotomia insustentável. Por um lado, temos o Professor, única autoridade de saber e disciplinar numa sala de aulas. Por outro lado o aluno, de quem se espera que assuma uma atitude passiva na aprendizagem e se submeta à autoridade do Professor.

    Vivemos em tempos de interactividade na aprendizagem. A imagem do professor que fala e o aluno que ouve; do professor que tudo sabe e do aluno que só aprende, do professor que age e o aluno que não se mexe pertence ao passado, ou assim devia ser. É preciso um ensino interactivo em que o aluno também desempenhe funções de fazedor/transmissor de conhecimento/experiência.

    Muitos dos nossos jovens têm competências próprias que a escola não valoriza. Competências adquiridas graças às novas tecnologias, ou ligadas à musica, a certos talentos artísticos, ou ao desporto… Competências que importava que a escola aproveitasse, potencializasse e não castrasse, como acontece num sistema de ensino que só admite o saber se unicamente associado à figura do professor. (a ideia de que o professor é que sabe e que os alunos são uns analfabetos sem remissão é lamentavelmente muito difusa no seio da classe doutoral! . O saber só está do lado do professor. o aluno esse é o ignorante, que não tem bases o analfabeto estrutural, enfim aquele a quem todos os dias é apontada a porta de saida da sala de aula – o abandono escolar.)

    No nosso sistema de ensino o professor encontra-se refém de uma condição paradoxal(que, ao limite, irá esvaziar a sua função de pedagogo). Do professor espera-se que seja um pedagogo empenhado na educação dos seus alunos e a autoridade capaz de os disciplinar na sala de aula. Espantoso é que ninguém perceba que o professor não pode, aos olhos dos seus alunos, ser aquele que usa da sua autoridade e, simultaneamente, da sua sabedoria. Que apresente o chicote primeiro, para depois elogiar as virtudes da educação e da aprendizagem. Que grite aqui e expulse acolá, para depois defender a importância da cidadania e do saber, da tolerância ou dos fecundos proventos que advém da aprendizagem da forma como resolver uma equação… O professor não pode ser, simultaneamente, o pedagogo e o policia.

    No meu tempo de estudante, os professores queixavam-se que os alunos não tinham bases. Pelos vistos, a falta de bases acompanha gerações de estudantes neste país como uma condenação.

  32. Levy diz:

    Chapelada!

    Tirou-me as palavras da boca. Vou linka-lo.

  33. Albinoso diz:

    Cá está! Pode ver-se no texto do papai de cima a defesa que se faz das crias. Como se os meninos agora fossem para a escola muito sabedores, coisa que antigamente não acontecia. Esta sobrevalorização e autovalorização dos genes transmitidos faz lembrar uma época de meados do século XX.
    O pior da actualidade não é a ignorância dos alunos. Proporcionalmente aos tempos, saberão na mesma quantidade e qualidade do que nós, alguns dos menos novos, que quando entrávamos na escola já quase sabíamos ler e calcular. Hoje, as letras e os cálculos podem dizer-lhes pouco, mas, para compensar, sabem jogar no computador e usar o telemóvel.
    O real problema está nuns certos pais e EE. Naqueles para quem a chegada da democracia significou a perda total de humildade e a subida hiperbólica da auto-estima.
    Muitos deles são completamente subjugados pelos filhos a partir de tenra idade, facto que tem sido tratado por imensos estudiosos e que deram lugar a livros como “Pequenos Ditadores”. O problema é que estamos num recanto europeu onde dificilmente se conseguirão melhorias nas mentalidades nas décadas mais próximas.
    O aventureirismo político foi outra desgraça. As novas oportunidades, destinadas a distribuir diplomas por muitos desses pais, foi outra. Como convencê-los agora de que é preciso esforço por parte dos estudantes?
    Fiquemos com o desejo de que, ao menos, os alunos não fiquem iguais a tais pais!

  34. lucklucky diz:

    Contra académicos mostra bem a mistificação que vai na cabeça de algumas pessoas e como o problema começou; num português popular: Pôr o carro à frente dos bois.

    Saber ler, escrever e entender textos não tem nada que ver com a quantidade de baboseiras que escreveu. O que está em causa são as fundações, o mais básico.

  35. Pingback: entre a cultura e a burocracia: o ensino « Novo Mundo

  36. Contra académicos diz:

    lucklucky

    Existe uma guerra surda nas escolas portuguesas. Uma guerra com várias frentes, que opõe alunos e professores, professores e Ministério, estudantes contra estudantes. Esta guerra está a corroer a escola e acabará por destruir qualquer ideia de pedagogia no ensino. No fim desta guerra suicida no ensino português, entre mortos e feridos, talvez cheguemos à conclusão que não perdemos grande coisa em acabar com um sistema de ensino baseado na surdez, no desinteresse e na arrogância de muitos, a começar pelos professores, mas também pelos pais, alunos e decisores políticos. Sobre os escombros desta guerra no ensino português teremos talvez a satisfação de ver o fim de um sistema de ensino desactualizado, injusto e anti pedagógico, assente sobre modelos de transmissão de conhecimento que remontam ao século XIX.

    Um dos problemas do ensino português é que este se encontra moldado por paradigmas de transmissão de conhecimento ultrapassados. Um ensino unívoco, em que o professor ensina e o aluno aprende. Em que se exige do aluno que se submeta à autoridade do professor e ao professor que se submeta à autoridade politica do momento. Um modelo em que o professor é depositário de todo o saber e inteligência, e o aluno de toda a falta e necessidade.

    Podemos descartar qualquer contributo sério sobre o futuro da escola portuguesa, apelidando-o de «baboseira». Também podemos, com o mesmo desprezo, apelidar os alunos de «meninos», ou «analfabetos estruturais» com o objectivo de os rebaixar e diminuir intelectualmente. Este é um caminho que eu recuso, convencido como estou que inteligência, a capacidade de aprender e transmitir conhecimento, ou o talento não são apanágio exclusivo dos professores. Ou de que as valências dos professores não podem ser reduzidas à s questões da autoridade.

    Haveria muito que discutir sobre a autoridade do professor na escola. Se a autoridade dos professores e o respeito que estes justamente exigem da parte dos seus alunos, decorre do saber cientifico e capacidade pedagógica dos professores, ou se pelo contrário, se trata de uma autoridade coerciva, exercida sobre os alunos contra toda a pedagogia e formação cívica que a escola deveria cultivar.

    Evidentemente que os problemas da escola portuguesa não se resumem aos problemas disciplinares, nem à situação paradoxal em que os professores se encontrar, obrigados a desempenhar papeis contraditórios e anti pedagógicos. O sistema de ensino em Portugal é tão absurdo que exige que os professores sejam , ao mesmo tempo, pedagogos e anti pedagogos. Professore e disciplinadores. Autoridade cientifica e autoridade ‘policial’ dentro da sala de aulas − ao mesmo tempo que os responsáveis políticos do sector clamam por uma avaliação sobre o docente que esse mesmo sistema considerou apto para o ensino.

    È urgente pensar o ensino em Portugal sob um paradigma diferente. O ensino interactivo, baseado numa concepção multilateral do ensino em que para além dos professores, também o alunos, e as comunidades em estes se inserem se tornem, a par do professor, fazedores/transmissores de conhecimento. A aprendizagem hoje não se faz, como no passado, unicamente nos bancos da escola e com a matéria debitada pelo professor. Existem hoje múltiplas fontes de saber que devem ser valorizado pela escola. Os alunos podem ser, soba orientação cientifica/pedagógica do professor, fazedores de saber na escola. Eles já o são, diariamente, nas inúmeras formas como expressão os seus talentos, interesses e conhecimento, nomeadamente, das novas tecnologias.

    Pode acusar-me de ser naif. De ter uma visão angélica dos nossos/vossos estudantes. Sei por experiência que uma planta não crescer se não houver ambiente propício. A escola transformou-se num deserto que seca tudo à sua volta. Lamenta a falta de bases dos estudantes, sem cuidar de saber / aproveitar/ incrementar as bases existentes. Diz que os alunos são analfabetas e ignorantes sem se preocupar que competências possuem, ou quais as competências que poderiam ser cultivadas de forma mais proveitosa., tendo em conta as necessidades reais dos alunos e das comunidades em que se inserem.

    Na discussão sobre o ensino em Portugal corremos sempre o risco de sermos ofendidos. Que sobre nós recaia a acusação infame, essa fatwa intelectual, com que alguns procuram diminuir as capacidades dos seus alunos. Ou então, enveredarmos pelo maquiavelismo com que os protagonistas do ensino no nosso país se diabolizam uns, aos outros.

  37. Francisca diz:

    A Escola da Ponte, em Santo Tirso, é um bom exemplo de como se devem preparar futuros adultos responsáveis, com método de trabalho e conhecimentos verdadeiros e completos das matérias apreendidas. Uma escola que teve que lutar contra o status quo para levar a sua filosofia (e prática) a diante.

  38. João Torgal diz:

    Alguns comentários adicionais, em função do que foi dito

    1. Reforço a ideia da importância do “chumbo”. Percebo e concordo, Filomena, que haja uma aposta forte nos percursos alternativos, nomeadamente de carácter artístico, técnico e profissionalizante, e com a sua obrigatoriedade para alunos com insucesso continuado. No entanto, só com uma grande justiça e exigência avaliativas, que premeie o esforço e a qualidade e puna o demérito e o desinteresse e que não opte jamais pela progressão automática, se poderão, numa primeira instância, detectar esses sinais de insucesso. E quanto aos custos, considero, sem demagogias, que a aposta num ensino sério e exigente não é um gasto, mas um investimento, que é depois compensado pela existência de uma população verdadeiramente (e não apenas estatisticamente) qualificada e competente. Até porque, bem pelo contrário, o que me parece uma despesa verdadeiramente superflúa é o aumento de escolaridade obrigatória até ao 12º ano. Não só porque os resultados são previsíveis: diminuição de qualidade do Ensino Secundário e um panorama de mediocridade inacreditável nas Universidades. Mas também porque me parece que essa medida não é mais do que o resultado do complexo bem português e totalmente absurdo de que quem não tem um diploma ou um canudo não é ninguém, por mais digna que seja a sua profissão.

    2. Os lobbys estão um pouco por todo o lado. Estarão também nos sindicatos, tendencialmente e historicamente avessos a reformas e defensores de interesses corporativos e individuais por vezes duvidosos. No entanto, é preciso não esquecer que, apesar disso, são eles que dão a cara nos momentos mais difíceis pela defesa dos professores, enquanto muitos dos nossos colegas que tanto criticam o sistema, nada fazem e nada lutam para que as coisas mudem. Assim sendo, muito mais do que os sindicatos, terá peso o lobby dos “cientistas da educação”, daqueles que, com uma formação mais do que questionável, terão bastante peso nas decisões e leis educacionais que vão sendo propostas, sem terem contudo um conhecimento efectivo do que se passa no quotidiano das escolas. E também, claro, de todos aqueles que se aproveitaram de uma certa opinião pública que, por má experiência, incapacidade ou frustração, tem uma péssima impressão da escola e um ódio simplista aos professores.

    3. Não contesto, à partida, a existência de novos métodos, novas ferramentas e novos materiais de ensino. Eu próprio os aplico para diversificar estratégias e para tornar as aulas mais dinâmicas. Mas a paranóia em redor da “modernização ” da educação, do “ensino centrado no aluno” ou da aprendizagem meramente lúdica e divertida está mesmo a cilindrar o sistema educativo em Portugal. Porque, não tenho problemas nenhuns em dizê-lo, continua a ser indispensável decorar certas coisas, aprender matérias pouco estimulantes, aplicar frequentemente o método expositivo e existir uma lógica unilateral de que o professor ensina e o aluno aprende. Não são métodos retrógrados, são sim aspectos essenciais para um ensino de qualidade.

    4. “Contra Académicos”: se um professor não pode fazer uso da autoridade ou da disciplina enquanto ensina, então quem o faz? Polícias ou outras entidades externas na sala de aula? Ou simplesmente os alunos fazem o que querem, sem que ninguém os obrigue a respeitar as regras?

    5. Domingos: é lógico que já sabia o que me esperava. Não faltaram amigos e familiares ligados ao ensino e até professores do Departamento de Matemático da Universidade de Coimbra que disseram que eu era louco em optar pelo ensino como via profissional, dada a minha média elevada e a conjuntura actual. Mas, é realmente muito diferente quando se experiencia a realidade. Em todo o caso, aconteça o que acontecer, mesmo que eu abandone a carreira de professor do Ensino Básico e Secundário no final deste ano para me dedicar a outros tipos de ensino ou ao ramo da Matemática Aplicada ao nível empresarial (a minha formação inicial), não ma arrependo da opção que tomei. Até porque só estando por dentro, se conhece efectivamente a realidade e se tem mais propriedade e conhecimento de causa para criticar o perverso sistema educativo actual.

    6. Morgan: é preocupante quando assim é, quando genericamente são os colégios privados que apostam na qualidade, quando muitas vezes nestes imperava o facilitismo. Parece que a lógica começa a estar trocada. Mais um exemplo paradigmático de que este sistema educativo pseudo-inclusivo está, na realidade, a criar uma lógica elitista, em que o fosso entre as melhores e as piores escolas só tende a aumentar.

    7. Claúdia, não poderia estar mais de acordo com o relato que fizeste da nossa experiência com uma turma mais problemática. Com a diferença que, por seres DT, ainda deves sentir a impotência e a injustiça de forma mais acentuada. Retive esta tua frase, que acho que sintetiza tudo na perfeição: “É frustrante ser professor hoje em dia quando tudo caminha para longe do que é mais importante”. Nem mais.

    8. Fico bastante feliz pela discussão que este post criou. Parace-me que toda e qualquer forma de relexão sobre o estado actual da escola e do sistema educativo tem de ser digna de registo, pelo que felicito todos os que já leram e/ou comentaram este meu texto ou que o façam no futuro.

  39. João Torgal diz:

    Francisca:

    Visitei a escola da Ponte há dois anos e, na altura, fiquei com a clara ideia de que o seu modelo pedagógico vanguardista só era realmente eficaz porque as condições da escola eram absolutamente excepcionais, nomeadamente com um ratio professor / aluno elevadssimo. Pelo que a sua aplicação global seria totalmente impossível, pelo menos no presente das escolas portuguesas.
    Na altura, elaborei um texto pessoal e pouco avalizado (teria naturalmente de conhecer melhor a escola para ter uma opinião mais fundamentada) sobre o fenómeno da escola da Ponte. Talvez faça sentido, no contexto desta discussão, que o publique aqui no blog.

  40. Contra académicos diz:

    Um dos maiores equívocos do nosso sistema de ensino tem haver com a avaliação de alunos e professores. Compreende-se que a questão da avaliação se tenha tornado na questão dominante de um sistema de ensino que vive na pretensão de tudo quantificar, em créditos e valores absolutos. Um sistema que confunde amiúde a criação/transmissão de conhecimento, com a noção mercantilista de troca. De um sistema de ensino que, há muito, reduziu o saber à “matéria” (debitada pelo professor, empinada e repetida pelo aluno), não se pode esperar outra coisa que não seja sujeitar o saber à avaliação − quer dizer, à valorização quantitativa e mercantilista, da matéria em troca.

    Da avaliação quantitativa decorre outro equivoco (de consequência pedagógicas mais graves): a sujeição do saber, ao curriculum. Julgo que ninguém discute (eu pelo menos não discuto) a importância da aquisição das competências básicas, por parte dos alunos, como saber ler, escrever e contar. Se o sistema de ensino tem uma razão de ser é a de dotar os estudantes das competências básicas, sem as quais, a sua integração social e desenvolvimento pessoal seriam impossíveis. Dito isto, talvez fosse importante, para professores e decisores políticos, dotarem-se de uma atitude mais humilde (embora o espírito critico fosse suficiente para quem estivesse na disposição de sujeitar as suas convicções à critica) e perceber que o curriculum escolar – o conjunto de conhecimentos considerados indispensáveis na formação de alunos – não é um dado absoluto, inquestionável, mas relativo. O curriculum escolar é resultado de opções mais ou menos cientificas (em alguns casos pseudo cientificas), politicas e pedagógica que, em cada momento, se consideram importantes na formação de um estudante. Exceptuando a aquisição das competências básicas (inegociáveis), o curriculum de ensino ( e consequente avaliação) dever ser relativizado e adaptado às necessidades dos alunos e das comunidades em que estes se inserem.

    O erro da excessiva importância atribuída à avaliação no nosso sistema de ensino, assenta no principio (errado) que o curriculum escolar é uma dado absoluto e inquestionável. Que, quem não dominar as matérias do curriculum, não se encontra apto a passar de ano e adquirir novas competências. Subjacente à noção do curriculum escolar como única forma de avaliação das competência e conhecimentos dos estudantes, encontra-se a ideia de que a aprendizagem é um processo cumulativo, que supõe uma base e progresso constante do conhecimento. O nosso sistema de ensino optou por um modelo de concepção linear/cumulativo da aprendizagem, acabando refém de uma concepção que sujeita tudo e todos ao mesmo curriculum e avaliação, (independentemente das necessidades, talentos e capacidades de cada um, ou das necessidades objectivas das comunidades envolventes).

    A obsessão por um modelo cumulativo de saber, imaginado como se fosse um edifício em construção, em que um novo lanço deve assentar sobre bases prévias, corresponde a uma opção sem grande sustentação cientifica e,por isso, tão válida como qualquer outra. Porque que é que não haveríamos de conceber a aprendizagem a partir de um modelo quântico, por exemplo, baseado em saltos qualitativos, invês de a sujeitar a um modelo linear e cumulativo?

    A questão não é, como esta bem de ver, como avaliar os alunos e professores, mas antes como valorizar as competências de uns e outros. Avaliação vs valorização. Substituição de um modelo fechado, unívoco , inquestionável do curriculum escolar, por um modelo aberto em que todos, professores, alunos e comunidade envolvente sejam criadores /transmissores de conhecimento. Um modelo que valorize a participação, sobre o resultado. A criatividade sobre a repetição. A diferença sobre a unanimidade. Neste sentido, o curriculum escolar deve ser resultado das necessidades dos jovens e comunidades em que vivem e não de decisões politicas, impostas coercivamente a partir de um centro politico.

    Exceptuando as matérias que dizem respeito à aquisição de competências básicas, o curriculum deveria ser feito por professores, alunos e comunidades locais – caso a caso, turma a turma, individuo a individuo, se for caso disso. Ter em conta, na valorização do aluno, não só os conhecimentos adquiridos no âmbito escolar, mas também os conhecimentos adquiridos fora da escola. Se um aluno é jogador de futebol no clube local, porque é que isso não poderá ser tido em conta na sua avaliação? Se um aluno frequenta aulas de musica , ou é membro do grupo de teatro local, ou frequenta aulas de surf, por exemplo, que lhe permitem adquirir novas competências, ou faz parte dos bombeiros locais, porque é que tudo isto não poderá ser tido em conta num sistema de avaliação baseado não na famigerada «nota final », mas na aquisição de competências não curriculares, através por exemplo de um sistema de créditos de ensino, devidamente certificado? Devemos valorizar o ensino e a aprendizagem, de alunos e professores, par além do modelo antiquado baseado na autoridade, na noção de curriculum e de avaliação. Persistir nesta semiótica e práticas pedagógicas é persistir no erro que levou ao descalabro do nosso sistema de ensino.

    O que será mais importante para um jovem hoje? Saber de cor o nome dos reis de Portugal e respectivas dinastias, ou dominar a terminologia e significado da sociedade de informação? Saber escrever de forma elaborada e literária, ou dominar a linguagenm, códigos e formas sucintas de comunicação da era tecnológica? Adquirir competência de expressão artística e noções de história da arte, por exemplo, ou dominar os modos de produção e edição de imagem em suporte digital ?

    Todo o currículo escolar resulta da valorização de um determinado saber, ou conjuntos de saberes, em detrimento de outros. Neste sentido, todo o curriculum de saberes e respectiva avaliação são sempre relativos. Se aceitarmos a relatividade dos currículos e, consequentemente, a relatividade da avaliação feita a partir deles, então será mais fácil voltarmos de página e iniciarmos a discussão que verdadeiramente interessa ao ensino em Portugal. Não saber como avaliar, mas como valorizar as competências que os jovens hoje adquirem fora do sistema de ensino tradicional. Ou por outras palavras, em que moldes conceber o novo modelo de ensino (interactivo) da era tecnológica?

    • Ana Martins diz:

      Li a primeira linha deste post e não consegui avançar mais. Como professora de Português, aconselho-o a corrigir um erro grave de pensamento: a expressão que pretende usar é ” ter a ver com” e não “ter haver” ( exemplo para o emprego desta última: “Dei 200 euros para pagar 120; tenho a haver 80 euros.”).

      Ora vê, é assim que os professores conscientes ensinam os seus alunos. No caso o senhor/a “contra académicos” não é um aluno de escola. Mas é sempre tempo de aprendizagem … até ao fim da vida!

      Obs.: Já que estou com a mão na massa, acrescento que não deve confundir-se “tivesse” com “estivesse”.

      E só li os post na diagonal (que eu, de Letras, sei o que é pois tive excelentes e lúcidos professores de Matemática. Como o Torgal.
      Prometo uma participação mais alongada sobre a matéria em questão.

      Saudações académicas.

  41. Essa lógica de que tudo nos programas pode ser relativizado só contribui para que se exija cada vez menos e que o grau de ignorância seja cada vez maior. Quando se considera que apenas ler, escrever e contar minimamente é inegociável e se desvaloriza aspectos como ter alguma cultura geral (que passe, por exemplo, por ter um conhecimento decente de história nacional e universal) ou ter um nível de escrita aceitável em português, já se chegou, de facto, ao limite.

    Aliás, acho que este seu parágrafo diz tudo e mostra bem as diferenças abissais que há entre as nossas concepções de ensino:

    “O que será mais importante para um jovem hoje? Saber de cor o nome dos reis de Portugal e respectivas dinastias, ou dominar a terminologia e significado da sociedade de informação? Saber escrever de forma elaborada e literária, ou dominar a linguagem, códigos e formas sucintas de comunicação da era tecnológica? Adquirir competência de expressão artística e noções de história da arte, por exemplo, ou dominar os modos de produção e edição de imagem em suporte digital?”

    Espelha bem a perspectiva tecnocrática e vazia de sentido cultural que tem invadido a nossa opinião pública. Qualquer dia ainda há-de existir uma disciplina na escola chamada: “Jogos de consola”. Já faltou mais…

  42. Contra académicos diz:

    Se o domínio da linguagem, códigos e saberes da sociedade de informação/tecnológica é expressão de um ”vazio cultural”, como sugere, então temos que discutir o que entender por cultura na era tecnológica. Julgo que podemos admitir, sem grande dificuldade, que aquilo que sabemos (e também aquilo que ensinamos, para quem é professor), é apenas uma parte do saber. Que o curriculum escolar é fruto, não de uma relativização, mas de opções que resultam da valorização de determinados conteúdos, em relação a outros. Se a história universal constitui parte relevante do curriculum é porque alguém valorizou a história como “matéria” de conhecimento e aprendizagem e não porque a história seja, em si mesma, uma disciplina indispensável para averiguar da inteligência, competência ou saber de alguém. Há pessoas com elevadas competências específicas, que no entanto não dominam a história de Portugal ou universal. Teremos nós, por exemplo, o direito de “chumbar” um cientista que, suponhamos, ganhou um prémio Nobel da física, só porque este não sabe quem foi o último imperador do Sacro Império Romano ? Ou não será que, na sociedade de informação e tecnológica em que vivemos, as competências cientificas mais valorizadas são as relativas a saberes específicos, locais, especializados, e não universais como a escola vigente (que continua, no essencial, a perpetuar um modelo de ensino vitoriano) insiste em ensinar?

    O curriculum escolar resulta sempre da valorização (mais ou menos cientifica) de determinados saberes, em detrimento de outros e não pode, por isso, ser considerado como dado absoluto em função do qual avaliar ( de forma absoluta e taxativa)o saber dos alunos. Há mais saber para além do curriculum escolar. Bastaria comparar os currículos de hoje com o que se ensinava nas escolas há 10, 20 ou 30 anos, para percebermos como os currículos escolares estão em constante revisão e como é absurdo sustentar a avaliação das competências de cada um, sobre conteúdos tão perecíveis.

    Compreende-se que a escola actual despreze de forma tão arrogante a aquisição das competências básicas do seus alunos. A escola portuguesa tornou-se numa espécie de laboratório de experiências pedagógicas, alicerçada na “arrogância cientifica” de muitos dos seus responsáveis, demasiado seguros daquilo que deve constituir o saber de um aluno. Acho que já nos daríamos por satisfeitos se os nossos alunos saíssem da escola a saber ler, escrever e contar, coisa que não acontece actualmente.

    Eu não desprezaria a aquisição das competências elementares, sabendo nós a quantidade assustadora de alunos que saem da escola sem saber ler, escrever e contar. Penso que estaremos de acordo em dizer que há níveis e graus de complexidade crescente no saber ler, escrever e contar. Que quanto maior for o domínio e sofisticação dos alunos naquelas competências, tanto melhor. Que a capacidade de ler, escrever e contar implica o domínio de capacidades tão essenciais como pensar, estruturar e raciocinar. Certamente que estaremos de acordo que todas estas competências são indispensáveis na formação de um aluno. Penso que também estaremos de acordo que a escola actual não tem sido capaz de cumprir como o objectivo de dotar os seus alunos com níveis adequados de competência nas áreas básicas do saber ler, escrever e contar.

  43. Contra académicos diz:

    E porque não “aulas de jogos de consolas” se eles servissem para explicar aos alunos como se cria um jogo de consola, a matemática por de trás desses jogos, como se constrói uma imagem tridimensional, quais as diferentes áreas de saber implicadas num jogo de consolas, etc.

    A partir da compreensão dos elementos implicado num jogo de consola, talvez os alunos pudessem criar um jogo por eles próprios, aplicando os conhecimentos adquiridos. Num nível mais avançado, a partir dos jogos de consolas, talvez fosse possível, introduzir as noções elementares da teoria de jogos e da matemática aplicada a partir dela. Ou, nas áreas mais literárias, tendo por base um guião para jogos de consolas, explicar, por exemplo, os elementos fundamentais do drama e narrativa cinematográfica, por exemplo . Talvez os jogos de consolas fossem úteis para introduzir noções importante no ensino dos nossos jovens e tornar as aulas de matemática mais interessantes, interactivas e criativas

    Já agora, porque não utilizar técnicas de escrita criativa para tornar mais produtivas as aulas de Português?

  44. Domingos Lopes diz:

    Lol…
    Parece que andamos a discutir a escola primária. Coitado do Nobel da Física, que não sabe inglês… depois como pode receber o Nobel, se não sabia inglês para ler e produzir artigos…
    E claro que ele não chumbou por não saber qual era o último imperador dos romanos, pois suponho que no nosso sistema seria suficientemente inteligente para seguir ciências e não humanidades (falo da inteligência em saber escolher mediante os seus gostos e capacidades). Além do mais, ninguém chumba por isso, mas talvez chumbem por não saber a causa do fim do império e o que mudou na Europa nesse tempo.

  45. Pingback: cinco dias » Uma dissidência Alegre

  46. Pingback: Ser professor é… (1/2) « Nunoanjospereira’s Weblog

  47. Fartinho da Silva diz:

    Meu caro, deixe o “ensino” público o mais depressa possível. A “escola” pública foi capturada pelo lobby das “ciências” da educação e não me parece que alguém o consiga vencer em tempo útil.

    Também eu por lá passei e fugi a sete pés… e só estou arrependido por ter perdido dois anos da minha vida nesse circo.

    A profissão de professor foi transformada num INFERNO burocrático e o professor foi transformado num autêntico PALHAÇO.

    Hoje o professor tem como única função justificar o emprego dos “cientistas” e “especialistas” na fé das “ciências” da educação.

    Concorra a trabalhos a sério e deixe as brincadeiras burocrático-pedagógico-ideológicas para os desgraçados que não conseguem fugir do situacionismo.

    NOTA: é apenas um conselho.

  48. Pingback: Ser professor é… (2/2) « Nunoanjospereira’s Weblog

  49. Grego diz:

    Parabens pelo seu texto (e sua coragem) e pelo debate que proporcionou.
    A visão do “ContraAcadémicos” tem pontos interessntes mas que jamais resultarão numa escola em que os alunos não dominam as competencias fundamentais, como saber ler, escrever,contar e falar! É de facto confrangedor o nivel dos alunos do ensino básico!!
    Por muitas aulas “Dinâmicas” e por mais “Consolas” que se utilizem nada resulta se o aluno é incapaz de expressar ORALMENTE uma ideia por mais elementar que seja e se não respeita os colegas e professores; O que o “ContraAcadémicos” propõe enferma da grave doença das ideias ditas abusivamente “Progressivas” para o ensino: É muito bonito na teoria! Na prática simplesmente não resulta! Mas se o “ContraAcadémicos” parece tão seguro das suas “concepções” estou curioso e gostaria que viesse dar umas aulas à minha escola (que nem é das piores) para todos aprendermos com ele!

    Um Abraço!

  50. Ana Martins diz:

    O meu pequeno e despretencioso comentário em que corrigia dois aspectos de escrita… desapareceu.

    Afinal a censura existe e está na cabeça de muitos dos que se pensam livres. Criticar é lícito mas até certo ponto. Agora armar em académica e apontar erros, “jamais”, como diria o outro. É essa uma das razões pela qual não avançamos. Pois um pouco de post-modernidade: LOL. E um neologismo: LOLÍSSIMO !!!!

    A bienséance era bonita para os salões do século XVII e XVIII (E ela a dar-lhe com a cultura!…) , não para a era tecnológica.

  51. Ana Martins diz:

    Afinal, o primeiro comentário já ressuscitou. E afirmo-vos que mais haveria a corrigir: os dois apontamentos foram os que “gritaram” na minha leitura em diagonal.

    Quando tiver tempo, digo mais umas coisas, tudo sem mentir “puras verdades” provindas duma experiência longa com alguns alunos maravilhosos e outros exacerbados amantes e cultores da mais supina ignorância e do mais pimpão desprezo pelo pensar.

    Agora deixo apenas uma questão para meditação transcendental:
    Conseguir-se-á aproveitar a vivência de uma tábua rasa (Lembram-se da teoria?) habituada a sobreviver de hamburguers, pizzas e coca-cola e sem um mínimo de curiosidade intelectual, adorando ser tábua rasa e exibindo até alarvemente a sua condição como uma mais-valia social?

    Saudações académicas.

  52. paulo pereira diz:

    joão:
    concordo, de forma geral, com a descição do nosso istema educativo tal como a fizeste. Devo apenas referir duas coisas: penso que além da cultura do facilitismo, existe uma clara intenção de tornar as pessoas burras para queseja mais fácil a governação por uma oligocracia de incompetentes; bem te podes queixar com a razão de que os teus colegas (os tais que podem ser todos Bons para progredirem na carreira e custar ao país uns valentes milhões) são uma grande parte da situação actual que levou anos a chegar a este ponto

  53. Pingback: cinco dias » Uma apresentação e uma estreia… gastronómica

  54. Pingback: cinco dias » A solução de um professor…

Deixe um comentário