Novo album dos Sigur Ros – a magia continua

Sigur Ros

Med Sud I Eyrum Vid Spilum Endalaust  

Depois de um album meio undergound, lançado inicialmente apenas na Islândia, de 3 discos brilhantes consequentes, de uma colectânea de raridades e de temas acústicos e do lindíssimo DVD Heima, 23 de Junho marcou, cerca de 3 anos depois de Takk , o regresso aos discos de originais daquela que é talvez a minha banda internacional favorita: os Sigur Ros.

Em “Gobledigook, single de apresentação e tema que abre este Med Sud I Eyrum Vid Spilum Endalaust (traduzido para português o título do album quer dizer qualquer coisa como “Com um zumbido nos ouvidos tocamos sem parar”), instala-se a surpresa. Será que os Sigur Ros resolveram ao 5º album aproximar-se de uma pop mais convencional (ainda que desconstruída),  será que pretendem abrir uma janela maior para o mundo da rádio mais mainstream? A dúvida adensa-se com os também alegres e quase dançáveis (!!!) “Inní Mer Syngur Vitleysingur” e “Vid Spilum Endalaust” (pelo meio há um tema muito bonito, bem mais calmo e contemplativo, chamado “Godán Dagginn). Para este facto, não será alheia a questão do disco ter sido produzido por Flood, que já trabalhou com nomes como os U2 ou os Nine Inch Nails. Será um passo atrás ou um passo em frente? Na minha perspectiva talvez um passo ao lado, capaz de agradar a fãs de projectos de pop experimental como Animal Collective ou Dodos, que desiludirá alguns dos seus seguidores mais acérrimos, mas que, mantendo a identidade Sigur Ros, abre novos rumos na sonoridade da banda islandesa que poderão vir a ser consolidados em trabalhos posteriores. De forma positiva ou negativa? Só o futuro o dirá.

Em todo o caso, a abordagem mais pop termina no final do 4º tema do album. A partir daqui estamos de regresso, embora em cadência maioritariamente mais lenta, àquilo a que o Sigur Ros nos habituaram. O tema seguinte, intitulado “Festival”, começa com uma melancolia capaz de arrepiar o mais frio dos mortais, para a meio acelerar com um ritmo absolutamente viciante em direcção a um final apoteótico, entrando directamente para a lista dos melhores temas que os Sigur Ros trouxeram ao Mundo. Os dois temas seguintes são também fabulosos: “Med Sud i Eyrum” é um dos temas que mais próximo está dos trabalhos anteriores da banda, pela sua  profunda dimensão etérea, enquanto “Ara Batur” é mais um autêntico épico triste, terminando de forma lindíssima com a extraordinária presença de um coro infantil e de uma orquestra.

Daqui em diante, continuando em toadas lentas, melancólicas e muito bonitas, seguem-se “Illfresi”, “Fljotavik”, “Straummes” e  “All Alright”, a encerrar o disco. Este último, apenas com voz e piano, é mais uma novidade no percurso da banda, Depois de, até aqui, serem exclusivamente responsáveis pela composição de temas em islandês e num dialecto próprio (o “hopelandish”), esta é a primeira faixa dos Sigur Ros em inglês, embora com uma pronúncia absolutamente incompreensível.

Em jeito de conclusão, gostava apenas de dizer que este Med Sud I Eyrum Vid Spilum Endalaust pode não ser o melhor album dos Sigur Ros (o patamar está já demasiado alto para ser fácil de superar ou até mesmo igualar), mas volta a ser uma obra sublime, garantindo, desde já, um lugar na lista dos grandes discos do ano.

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2 respostas a Novo album dos Sigur Ros – a magia continua

  1. Paulo Jorge Pereira diz:

    Desde já, uma informação: para mim, os Sigur Ros são a melhor banda da actualidade e considero o album () o melhor de todos os outros excelentes albuns.
    Posto isto, concordo que este ultimo album é bom, mas menos belo, logo, menos sublime por lhe faltar a força que nos habituaram e que nos é transmitida pela desconstrução das músicas (que neste, praticamente não existe) e pela guitarra tocada com o arco(também não existe). Esta direcção já era apontada no Harf/Heim, onde a parte acústica perdia a força mantendo, no entanto, toda a beleza (pode-se perceber na diferença das versões de VON: na acústica a tristeza está só em nós, na eléctrica, o mundo está triste connosco!) e onde na parte eléctrica já se percebia a falta da guitarra com o arco.
    A construção pop mais convencional(sem a desconstrução!!) torna o albúm mais acessivel mas pode levar os Sigur Ros para um caminho que, na minha opinião, os pode tornar “não-geniais” e com uma sonoridade mais “normal”(os génios não são normais), logo, negativa.
    Não penso que esta minha opinião seja “daqueles que acham que a música e os músicos não devem evoluir” porque, apesar da fasquia estar no albúm (), TAKK é um excelente trabalho.
    Ok! Este também é um grande albúm, mas…

  2. João Torgal diz:

    Paulo:

    1. Relativamente à ausência da guitarra tocada com o arco (um dos aspectos que tornam a música dos Sigur Ros tão peculiar e característica) ser uma das questões mais negativas do disco, concordo em absoluto contigo. Era para referir isso no texto, só que depois esqueci-me.

    2. Discordo quando dizes que não há desconstrução nas músicas mais pop deste disco. Pelo menos no “Gobbledigook” há ali experimentalismo suficiente para não ser simplesmente uma música pop convencional. A identidade dos Sigur Ros está lá bem vincada.

    3. “Ok! Este também é um grande albúm, mas…” Ainda assim, sempre o consideras um grande disco e isso é o mais importante.

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