Assisti à primeira parte do debate entre Passos Coelho e Louçã. Parei de ouvir quando o candidato do PSD insinuou que os 50.000.000€ que Jardim gasta no seu folhetim de propaganda (eu já o li, e também li o Diário de Notícias do Funchal – um folhetim de propaganda do PS – que se destaca pela substancial diferença de não sair do bolso do contribuinte) são como que uma bagatela (nem sequer chegam a ser uma despesa relevante, portanto), isto depois do seu nonsense neoliberal que durou cerca de 10mn, até ser interrompido por Judite de Sousa.
Mas pergunta o arguto leitor: o que são 50.000.000€, afinal? Já não foram gastas barbaridades idênticas (e maiores) em coisas piores? Com toda a certeza que sim. Mas parando para pensar:
– São 55.555 propinas de estudantes do ensino superior (todos os estudantes da Universidade de Coimbra e da Universidade do Porto juntos);
– São 8.333 bolsas de 600€/ mês atribuíveis a estudantes de doutoramento, investigação, etc. (nacionais ou estrangeiros);
– São 20.834.000 refeições nas cantinas sociais de qualquer universidade do país – sim, leu bem: mais de 20 milhões de refeições;
– São 20.000 prémios de 2500€ atribuíveis a alunos que se destaquem em áreas como a saúde, gestão, marketing, novas tecnologias (áreas que criem valor para o país, basicamente).
Ou se preferir:
– São 111.111 ordenados mínimos;
– São 166.166 pensões de 300€;
– São 110.000 próteses dentárias.
Ou ainda:
– 550 habitações sociais de 100.000€, 1100 habitações sociais de 50.000€ (e assim sucessivamente).
Imagine esse dinheiro gasto a colocar os nossos vinhos em mercados internacionais; as nossas praias na televisão de um alemão enregelado; os nossos móveis em feiras de design espalhadas por todo o mundo.
Acho que já percebeu, caro leitor, que estes 55.000.000€ são apenas e só mais um pedaço do Portugal que não se cumpriu.
Corra, portanto, a votar no PSD: um partido que há 30 anos pactua com o maior rei momo português: de Marcelo a Marques Mendes, de Manuela Ferreira Leite a Passos Coelho; todos paparam a hóstia sabiamente amassada pelo “papi” do Funchal: um Chavez de bolso que criou e que mantém à custa do seu bolso um feudo em que pura e simplesmente não existem as mais elementares noções de democracia, justiça e transparência.
É esta a dura realidade: um país que permite a um governante gastar 50.000.000€ num jornal de propaganda diz tudo sobre si próprio.
Se dúvidas existissem, o proteccionismo de Passos Coelho ao totalitarismo da Madeira mostra que ele e Sócrates são farinha do mesmo saco