Fanfarlo, 7 de Setembro, Lux: reportagem

A primeira vez que tomei contacto com a música dos Fanfarlo foi há dois anos no festival Sudoeste. A banda liderada pelo sueco Simon Balthazar abriu o palco secundário com o recinto meio vazio e, na altura, passou de tal forma despercebida para muitos, que foi nos últimos dias veiculada a informação de que esta seria a estreia dos Fanfarlo em Portugal. Contudo, o concerto da banda londrina foi uma das boas surpresas da edição desse ano do festival, com uma linhagem pop que, entre a euforia e a candura, com travos sinfónicos e com a importância grande dos elementos de trompete e de violino, resultou muito bem naquele agradável final de tarde. No entanto, sem terem qualquer disco ou EP editado, mas apenas uns singles algo obscuros e de difícil acessibilidade, facilmente a banda acabou por cair no esquecimento, pelo menos até meados de 2009…

Com edição americana e britânica em Setembro de 2009 e para o resto da Europa já no presente ano, Reservoir marcou a estreia discográfica dos Fanfarlo. Confirmando a sonoridade patenteada ao vivo, rapidamente começaram as comparações com os Arcade Fire. Pela estrutura algo épica, embora francamente mais contida, percebe-se a lógica do cotejo, apesar de haver aqui também pormenores de Beirut, nomeadamente na presença dos sopros, ou do lado mais folky de uns Neutral Milk Hotel, de quem a banda se confessa admiradora. Todavia, falta no disco alguma da magia e até do toque mais orelhudo que existe nos Arcade Fire e há alguma banalidade delicodoce em temas como “Comets.” Convenhamos, nem toda a gente consegue fazer logo em início de carreira uma obra-prima como Funeral ou Gulag Orkestar.

Foi neste contexto musical que os Fanfarlo visitaram Lisboa, para um concerto no Lux. Com um preço de bilhetes não muito acessível (20€), na ressaca dos festivais de Verão e com a banda a captar apenas uma atenção ainda algo moderada e restrita, acreditava-se que pudesse estar pouca gente a assistir ao concerto, mesmo tendo em consideração as dimensões reduzidas do espaço. Pura ilusão. Foi uma sala completamente cheia que assistiu ao espectáculo da banda londrina, cujo alinhamento incidiu sem surpresas no disco de estreia, do qual tocaram a grande maioria dos temas (se não estou em erro, excepção feita apenas a “If it is Growing” e a “Good Morning Midnight”), mas que também incluiu “Atlas”, da surpreendente banda-sonora do filme Eclipse (série Twilight) e alguns originais. O som da banda está mais consistente que em 2008, a combinação do poder moderado da percussão e das guitarras com o lado mais sinfónico é interessante e é feito de uma riqueza instrumental grande, contando para além dos convencionais baixo, bateria e guitarra e dos já mencionados violino e trompete com clarinete, bandolim, melódica, teclados ou xilofone. Contudo, o som esteve longe de ser perfeito, o que fez com que certos instrumentos, como a espaços o trompete ou o violino, não se ouvissem devidamente. Num espectáculo em que a comunicação com o público foi bastante reduzida, resumindo-se praticamente à recordação da passagem anterior por Portugal e aos elogios à beleza da cidade de Lisboa, e em que a reacção do público foi rlativamente morna, o problema da qualidade de som foi-se desvanecendo com o passar do tempo, nomeadamente a partir do apoteótico “The Walls Are Coming Down”, talvez a par de “Fire Escape” o tema mais conseguido dos Fanfarlo. O melhor estava, no entanto, guardado para o encore. Primeiro com um original (nunca antes tocado ao vivo, segundo a banda), com uma ligeira experimentação sonora menos clean até aqui relativamente desconhecida, com direito a samplagem e sintetizadores etéreos que poderão indiciar um novo caminho para a banda no futuro. Por fim, com uma interpretação plena de intensidade de “Ghosts”.

Antes do espectáculo, o Ipsilon profetizava uma presença futura dos Fanfarlo no Pavilhão Atlântico (paralelamente ao que irá suceder com os Arcade Fire em Novembro) e que, nessa altura, quem esteve no Lux iria orgulhosamente dizer “Eu estive lá”, referindo-se a este concerto. Foi bonzinho, mas esteve longe de ser memorável, pelo que dificilmente alguém recordará esta como uma noite mágica, ao invés do que sucedeu com o espectáculo da banda canadiana na edição 2005 de Paredes de Coura. O futuro o dirá…

(texto originalmente escrito para o site “O Ponto Alternativo”)

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