Naquele que foi talvez o festival de Verão português com o melhor cartaz, eis alguns comentários breves sobre os concertos que vi:
Beach House – Com um óptimo disco em carteira, Teen Dream de 2010, e com o lusco-fusco a criar, no caso, a atmosfera perfeita, os Beach House mostraram que ao vivo a sua música cresce muito em intensidade. Final mágico com uma interpretação cheia de garra do quase shoegaze “10 Mile Stereo”. ****
Grizzly Bear – Sendo das melhores bandas da actualidade, dificilmente o concerto poderia ser mau. Mas com a ausência de grandes temas como “Colorado” ou aquela incrível versão acústica de “All We Ask” e sem uma comunhão com o público tão vincada, esteve uns furos abaixo do concerto de Maio no Coliseu. ***
Pet Shop Boys – Electro-pop mais que duvidoso, desfile imparável de êxitos (“Go West”, “Always on my mind” ou “It’s a Sin), estética visual e decorativa ultra-parola. Kitch, kitch, kitch… mas isso num festival até tem algo de bom. **
Julian Casablancas – Com um disco a solo marcado por uma inclusão de elementos electrónicos questionáveis, a expectativa não era alta. Quando, num espectáculo com apenas 40 minutos sem grande chama (a indisposição do músico também não ajudou), os melhores momentos foram “Hard do Explain” e “Automatic Stop”… dos Strokes, acho que fica tudo dito. *
Hot Chip – Embora com nervo, a electro-pop dos britânicos Hot Chip não me convence particularmente em estúdio. Mas ao vivo foram para mim a surpresa do festival, com o impacto da música a ser bem maior. Empolgaram, mostraram sentido enorme de espectáculo e puseram meio mundo a dançar. Seguramente um dos grandes concertos do SBSR 2010. *****
Vampire Weekend – Dois anos depois da apoteótica prestação no Alive, os Vampire Weekend regressam a um país autenticamente rendido a seus pés. Com um alinhamento dividido entre o disco homónimo e o mais recente Contra (mais eclético e menos imediato, mas que acaba por se entranhar pouco a pouco), os nova-iorquinos deram novamente um concerto magnífico, irresistível e inebriante do início ao fim. *****
Spoon – Depois de Paredes de Coura 2007, os Spoon voltaram a tocar ao final da tarde e voltaram merecer o prémio injustiça do festival. É que canções como “Don’t Make Me a Target” ou “Written in Reverse”, o imenso groove da banda de Austin, o carisma de Britt Daniel ou a sua importante e já longa carreira, merecem um outro ambiente e um público bem mais numeroso. ***
National – Apesar de se perceber facilmente que o ambiente de festival está longe de ser ideal para a música dos National, (pede um espaço mais recatado), o facto de Matt Berninger se apresentar com uma maior sobriedade contribuiu para um concerto melhor do que no Alive 2008. Até porque, entre a candura e raiva, a emotividade interpretativa de temas como “Mr. November”, “Fake Empire” ou “Terrible Love” foi inequívoca. ***
Prince – Por ser um verdadeiro ícone histórico, daqueles que é verdadeiro currículo vê-lo ao vivo enquanto se pode (como os Beatles, os Rolling Stones, Madonna, Michael Jackson ou Metallica), era para muitos o nome mais aguardado do festival. Quer nos momentos mais pausados (como “Nothing Compares 2 You” ou na estranha participação de Ana Moura), quer nas verdadeiras injecções de adrenalina (“Kiss” ou “1999″), Prince mostrou ser um verdadeiro animal de palco, pelo que as expectativas foram francamente confirmadas ****
(tive pena de não ver St. Vincent e Sharon Jones e devia ter visto Ricardo Villalobos)
No entanto, é completamente impossível falar da edição 2010 do Super Bock Super Rock sem referir as suas deploráveis condições logísticas. Desde o miserável campismo (já habitual neste tipo de festivais, mas desta vez ainda mais miserável) até às horríveis acessibilidades de trânsito (com filas de horas e horas na saída do festival e no seu acesso – confesso que não percebo como é que pessoas com bilhete para o último dia e que acabaram por não conseguir ir ou por perder parte dos concertos, não pediram no mínimo a devolução do preço do bilhete), passando pelo imenso pó do recinto, ao défice nas entradas (1 ou 2 entradas num festival em que se aguardavam mais de 20000 pessoas??!!), à publicidade enganosa quanto à localização do festival na Praia do Meco (num descampado algures no meio da estrada e a uns 15km da praia, isso sim) e ao profundo desprezo com que, pelos vistos, trataram a Comunicação Social (um nº de acreditações reduzido ou inexistente para muitos dos órgãos), a Música no Coração só pode merecer uma veemente censura. Esperamos que para o ano a promotora corrija o que correu mal, sob pena de ver reduzido o nº de presenças no festival. É que, nos vários conceitos e estilos musicais, o que não faltam aí são festivais com um bom cartaz…