“Respeitando inteiramente o seu direito a tomar essa decisão, sinto a necessidade de dar voz ao meu lamento, repito, não porque não tenha ele o pleno direito a candidatar-se, mas porque o contexto em que o faz, em minha opinião, afecta irremediavelmente a dimensão ética da sua imagem. ”
“Este é mais um exemplo que nos incita a não acreditarmos na existência de incensados e predestinados grandes homens! ”
Estas citações são da autoria Camilo Mortágua, apoiante de Manuel Alegre e estão incluídas numa reflexao sobre a candidatura de Fernando Nobre, presente no site do MIC, Movimento de Intervenção e Cidadania. Embora eu esteja longe, para já, de me identificar com a candidatura de Nobre (o seu discurso tem sido marcado por demasiadas hesitações e dúvidas, por uma postura receosa e pouco afirmativa, tudo o que não se desejava de alguém que devia aparecer nesta campanha de forma livre, frontal e apaixonada), não poderia estar mais de acordo com as suas palavras…só que em relação a Alegre.
Também eu apreciei o seu espírito combativo em 2006, a sua demarcação da linha política do gang socratino (a.k.a. PS actual) durante o seu primeiro mandato, a sua coerência ideológica… Depois da humilhante aproximação ao aparelho “socialista” no comício de 19 de Setembro, ainda surgiu recentemente uma certa cortina de desalinhamento, quando, num regresso fugaz do “velho Alegre”, este teceu comentários profundamente críticos à lógica economicista e neo-liberal do PEC, no discurso de Bragança. Seria difícil, mas ainda poderia ser que Alegre conseguisse afastar a imagem do dia 19 de Setembro, dia do comício de Coimbra. Pura ilusão…
Por mais que fale da especulação económica, da importância do Estado Social, da defesa da Escola Púlica e do SNS ou da preponderância da ética na política (com este primeiro-ministro????), por mais que os traços humanistas e idealistas de esquerda continuem presentes na sua prosa, quando, no discurso de candidatura presidencial, proferido na semana passada, Alegre diz “sou republicano e socialista. Não renego a minha família política de origem(…), nas pessoas do Presidente Almeida Santos e do Secretário Geral José Sócrates, saúdo o meu partido, o Partido Socialista”, não há espaço para segundas interpretações. Alegre mostra que, apesar das discordâncias que manifestou nos últimos anos, continua a ter importantes pontes de contacto com o actual aparelho do PS. Pelo menos, não deixa margem para dúvidas: considera Sócrates um verdadeiro socialista e uma pessoa de esquerda (senão, não teria perdido a oportunidade de, apesar de “não renegar as suas origens”, de se considerar “republicano e socialista”, destacar a deriva do seu próprio partido, algo que, não só não fez, como implicitamente reforçou o contrário) . E, sendo assim, apesar de ainda estar longe de ter o meu sentido de voto definido (o Branco começa a afigurar-se como provável), Alegre jamais poderá contar com o meu voto.
E, tal como disse anteriormente, o principal prejudicado com este tipo de postura é… o próprio Alegre. Tenha ou não o apoio do PS, ficará na campanha a imagem de que o candidato tudo fez (incluindo, eventualmente, trair os seus princípios), para que o gang socratino o apoiasse. E esse facto político tirará bem mais votos do que dá.
P.S.: É com o sentimento amargo de desilusão que vejo cair uma das minhas maiores referências políticas portuguesas. Gostava do Alegre poeta, utópico, idealista e verdadeiro socialista, mas o oportunismo destas suas posições afecta de forma irreversível essa sua imagem
…donde se pode concluir que aínda bem que perdeu as últimas eleições, porque senão é que a desilusão era grande. Alegre apenas teve a postura com se apresentou ao povo nas últimas eleições, por ter sido preterido pelo seu, tão amado PS, para Soares. Agora o verniz estalou…mais uma para quem vota esquerda andra com as vísceras ás voltas(Note-se que não votei esq nem outra qualquer, por não acreditar , nem nos partidos, nem neste sistema…)
De tal forma que quando li a citação pensei que se referisse mesmo ao Alegre!