Decorre hoje, 4 de Março de 2010, uma greve da função pública, à qual aderiram os principais sindicatos de professores.
Através de um comunicado (que pode ser consultado aqui), alguns movimentos independentes de professores (APEDE, MUP e PROmova) demarcaram-se desta greve. Alegam, entre outros aspectos, que não faz sentido participar nesta forma de luta pouco tempo depois da assinatura do acordo de princípios, que é incrível que não faça parte do leque de reivindicações o fim deste modelo de avaliação e que não faz sentido os professores se envolverem na luta por questões salariais. Concordo com alguns aspectos que aborda o comunicado. Apesar de ter considerado positiva a existência de um acordo de princípios entre sindicatos e ministério, pela pacificação da escola e pela esperança num futuro mais risonho e pela correcção positiva de alguns aspectos importantes, pareceu-me óbvio que este acordo teria de ser considerado um meio e não um fim (ver post Finalmente…). Que o modelo de avaliação em curso está bem longe de poder fazer uma distinção justa entre melhores e piores professores e que dificilmente isso seria possível colocando colegas a avaliar colegas (como já deixei expresso anteriormente, talvez fosse interessante uma estrutura avaliativa que envolvesse professores universitários com ligação ao ensino não superior e meritórios professores do ensino básico e secundário em final de carreira e abandonando a profissão para desempenhar estas funções). Por outro lado, em relação ao bloqueio no acesso ao 5º e ao 7º escalão, embora, ao contrário do que parece defender este comunicado, eu concorde com barreiras de progressão, de forma a que a avaliação seja séria e que proporcione reais diferenças entre professores com notas diferentes, julgo que este processo tem de ser mais claro e transparente, para que não acabemos por, como aconteceu com muitos outros aspectos, ser enganados, aceitando um sistema de quotas subliminar.
No entanto, a minha discordância mais veemente diz respeito à compreensão genérica do alcance desta greve. Se esta fosse uma greve apenas e só de professores, concordaria com a essência do comunicado e com a ideia de incoerência com a assinatura de um acordo de princípios há dois meses. Mas não é, é uma greve geral da função pública, em que, demarcando-se da greve, os professores estariam a dar uma imagem de corporativismo verdadeiramente inaceitável. Isto porque, no momento actual, esta greve faz todo o sentido. Depois de anos e anos em que, em prol da saúde económica do país, nos pediram os maiores sacrifícios, com salários congelados, perda de poder de compra e reformas adiadas, percebemos agora pelos números do défice que tudo foi em vão. Que, à custa da incompetência, mas também da mentira despudorada, do oportunismo, da demagogia e dos aproveitamentos pessoais ilícitos, redundaram em nada todos os sacrifícios dos funcionários públicos e demais estruturas laborais. Por isso é que, mais do que uma greve da função pública, esta deveria ter sido uma greve geral, de revolta e de indignação para com os dirigentes políticos (gangsters) que nos têm governado nos últimos anos.
Mas não. E assim Dias Loureiro, Armando Vara, Paulo Penedos, José Sócrates e companhia vão permanecendo com a sensãção de que, façam o que fizerem, a impunidade lhes está garantida. Vamos reclamando, mas na hora certa assobiamos para o lado e tomamos uma atitude passiva e conformada com o que passa em nosso redor.
Agora sim, damos a volta a isto
Agora não, que eu acho que não posso… amanhã vou trabalhar.
Gosto do excerto dos Deolinda. Esse Movimento Perpétuo Associativo resume bem os defeitos da pacatez lusitana. Abraço e boa greve.