O “i” de há umas semanas atrás(ou este ou o “Público”) perguntava aos leitores se “achavam que Saramago devia renunciar à nacionalidade portuguesa”. Não consigo perceber qual a maior idiotice: os delírios de Saramago ou este tipo de inquéritos. Na verdade, são uma mania recorrente e servem quase sempre um de dois fins: elaborar a pergunta de forma a que as respostas confirmem uma certa “linha editorial”/ “orientação ideológica” do jornal (isto no caso do “Público” é flagrante) ou apelar aos ímpetos do leitor menos moderado. É certo que a questão já tinha sido abordada por um euro-deputado que ninguém conhece, mas a idiotice da nossa classe política é, quanto a mim, auto-suficiente: não precisa da ajuda dos jornais.
Em segundo lugar, e como já tinha referido Vital Moreira, propor (ainda mais alguém que devia conhecer a Constituição e zelar por ela…) que alguém renuncie à nacionalidade é, digamos… não me ocorre o termo. Mas isto é para ser levado a sério!? Há uns anos, e tanto quanto sei, tentou-se o mesmo com Soares, porque “espezinhou a bandeira”. Logo a bandeira! Podemos ter uma classe política que chafurda na lama que nós pagamos, mas com a bandeirinha e com o hino não se brinca! Viva a Maria da Fonte!
Esta forma peculiar de entender o patriotismo/ nacionalismo, digno de um folhetim do PNR (todos temos um José Pinto Coelho dentro de nós, after all) é revelador da nossa insegurança e de um certo paroquialismo ferreira-leitesco. Como pode Saramago jogar com o baralho todo? Num país cheio de santinhas e capelinhas kitch do estado-novo, fazer comentários deste género é no mínimo uma tentação irresistível. Mas é certo que deve pagar pela blasfémia: na cruz. Ou numa coluna de Vasco Pulido Valente. Se bem que isso seria desumano, não?