…também farei coisas destas.
Costumo dizer que Saramago tem um privilégio quase ímpar em Portugal, o de ser inimputável. Pode dizer o que quiser, fazer o que quiser, pois está lá tão em cima que ninguém se atreve a imputá-lo. Atrevia. A verdade é que tenho que rever este conceito. Rever, mas pouco, Saramago é imputável, vê-se agora, mas é imputável da maneira mais branda que jamais se viu. Fosse outro a proferir aquelas provocações e toda a opinião pública, já para não falar na Igreja, mostraria as garras em oposição feroz. Como é Saramago (e, mais ainda, um Saramago ancião), os teólogos e padres prontificam-se a debater calmamente com o escritor, indo até, como fez Carreira das Neves, salvo erro, mais longe, desculpando-o e comparando-o, nas suas divagações, a um “gato-fedorento” (acho que era um elogio, mas também pode dar-se o caso de a expressão ter sido pensada no sentido literal!). Parece quase que os papéis se invertem.
A pena é que tudo isto até poderia ter dado uma discussão engraçada e instrutiva, mas nem o próprio ‘Sir Amago‘ parece estar para isso. Acho que o homem só queria mesmo aquilo, mandar a laraxa.
P.S. Adorei aquela de que ele fez isto para vender mais livros. Está-se mesmo a ver. Um homem de oitenta e tal anos, no fim da vida, e que já vende livros como pãezinhos quentes…