Pedindo desde já desculpas pela minha cabulice (posso apenas garantir que estive ocupado com outros assuntos), venho por este meio colmatá-la, e nada melhor para o fazer do que falar sobre um assunto que não se reveste do mínimo interesse: o cartaz da Festa das Latas de Coimbra, commumente conhecida por Latada.
Tanto quanto se sabe, a Latada compunha-se de vários cortejos organizados pelas faculdades. Um belo dia arranjou-se maneira de fazê-la gerar dinheiro. De há unas anos para cá arranjou-se maneira de a fazer gerar muito dinheiro.
As comissões organizadoras deste tipo de eventos são compostas, normalmente, por gente que nada conhece da AAC. Metem-se nas listas da DG e apanham-se, de repente, a lidar com uma realidade que os transcende por completo. Não sabem como funcionam os grupos da Associação Académica de Coimbra, nem sabem a diferença entre estes e todos os outros: “são tunas”, pensam! Fazem apenas o que lhes mandam: agradar ao maior número de grupos possível, para que assim, no próximo ano, haja o maior número de votos possível.
Por outro lado, convidam-se artistas anunciados como “grandes nomes”. Pode não interessar que estejam rodados e não forneçam nenhuma referência cultural a ninguém. Mas isso interessa pouco, já que 80% dos espectadores de concertos não se lembrarão, provavelmente, do que viram no dia seguinte. Mas faço a seguinte pergunta: por que não utilizar um orçamento destes para proporcionar um evento em que realmente se produza e se divulgue cultura? Ninguém nega que o cartaz da Latada deva agradar a todos e reunir o máximo de géneros possível (o que não acontece, mas vamos supor, por ora, que até acontece). E pergunta, agora, o único leitor que se deu ao trabalho de chegar aqui: mas que cultura? Eu respondo: artistas nacionais. Exclusivamente nacionais. Não falo apenas do Rui Veloso e do Jorge Palma (para os organizadores destes eventos, “artistas nacionais” parece significar apenas isto). Falo de inúmeras bandas com projectos musicais consistentes e necessidade de divulgação. Fazem-se festivais que duram uma semana quase que exclusivamente com artistas nacionais. E resultam. E estão mais cheios de ano para ano. Por que razão continuamos a achar que não resultará aqui?
Qual é, por feliz ou infeliz acaso, a noite mais cobiçada da Latada? É Quim Barreiros! Artista nacional! Repare-se: não estou a sugerir um cartaz de música pimba, mas sim um cartaz que junte o útil ao agradável: que alargue os horizontes culturais dos estudantes e que divulgue a música e os artistas portugueses. Será difícil? Há poucos? Será que Coimbra tem mesmo que alinhar pelo que se passa nas outras “Semanas Académicas”? Será que é mesmo necessário marginalizar e relegar para segundo plano os grupos da casa? Contratar DJs? Incluir um artista sonante só porque sim?
Onde estão neste cartaz o Fado e a Canção de Coimbra? O Folclore da região? Bandas que constituam novidade? Por que são remetidos os grupos da casa para o final da noite (como sempre) e tratados como “sortudos”?
Resta perguntar: é a Festa que merece a Academia que tem ou a Academia que merece a Festa que tem?
Está tudo transformado em entretenimento e negócio. Já não há festa dos estudantes, há uma espécie de parque de diversões misturado com a festa da cerveja (sem querer ofender esta). Cada vez mais me convenço que muita desta gente simplesmente não gosta de música e não tem gosto musical, comendo tudo o que lá aparece. Eu desisti de lá ir a partir da terceira matrícula e só lá punha os pés quando aparecia um artista do meu agrado ou um convite oferecido.
Considere-se que convidar sempre os mesmos já chateia. Até prefiro que tragam estrangeiros (mas por cá a oferta está cada vez mais variada e com melhor qualidade), mas dar dinheiro a músicos pop comercial parece-me um insulto a uma teórica elite intelectual universitária portuguesa (mas cada vez mais parolizada). Na minha opinião os estudantes e outros frequentadores estão mais atentos às barraquinhas de stukada do que aos concertos.
E claro que a prata da casa deve ter um tratamento especial, tanto a nível de alinhamento como de remuneração. Pessoalmente não gosto nem de tunas nem da estudantina (apenas da pitagórica), mas a comissão de organização ao não dar a atenção devida a estes artistas durante as noites do parque (maior mobilizador) está a fazer com que a festa perca um bocado da sua identidade.
Pois…pois…
Lá criticas sabem vocês fazer (algumas oportunas e bem fundamentadas).
No entanto morrem com as próprias palavras. Ou seja, alguns elementos da Secção de Fado – organizadores da Festuna – também têm o seu grau de imbecilidade e falta de agradecimento. Calam e silenciam os colegas de algumas Secções da Academia, os quais também contribuiram para a diulgação da mesma Festuna.
Onde está o logotipo do apoio da Secção de Fotografia da AAC?
No entanto já mostraram o seu trabalho: http://fotografiaaac.net/fotaac/index.php?option=com_joomgallery&Itemid=59&func=viewcategory&catid=43
Antes de criticaram as escolhas das DG´s para as Latadas olhem para a vossa (organizadores da FEstuna) falta de agradecimento.
Faço uma pausa no “vocês”.
Caro “Denúncia Coimbrã”: isto não é um blog da Secção de Fado nem do Festuna. Escrevo aqui a título individual. No entanto, apesar de não estar na organização do Festuna deste ano, posso apenas garantir, como elemento da EUC e da direcção da Secção de Fado que não há tentativa de “calar” nem “silenciar” ninguém. Peço-lhe que não confunda esquecimento ou desleixo (e dou já a mão à palmatória se, de facto, foi o que aconteceu) com tentativas de “silenciamento”. Caso contrário serei obrigado a confundir as suas críticas – fundadas, de certo – com pura demagogia.
De resto, não vejo em que medida se relaciona este texto com o assunto que aqui aborda. Também não prosseguirei com essa discussão: há lugares certos para o fazer, e este não é certamente um deles.