Focos de Lucidez: Pacheco Pereira e as “Jotas”

Pacheco Pereira no seu Abrupúblico

“(…)

Um jovem que chegue hoje a um partido político por via das “jotas” entra numa secção e encontra imediatamente um mundo de conflitos internos em que as partes o vão tentar arregimentar. Ele pode esperar vir para fazer política, mas vai imediatamente para um contínuo e duro confronto entre uma ou outra lista para delegados a um congresso, para a presidência de uma secção, para uma assembleia distrital, em que os que já lá estão coleccionaram uma soma de ódios. Ele entra para um mundo de confrontação pelos lugares, que se torna imediatamente obsessivo. Não se fala doutra coisa, não se faz outra coisa do que procurar “protagonismo” e “espaço político”.

Se se deixa levar, ou pior, se tem apetência para este tipo de vida, passa a ter uma sucessão de reuniões e começa a pertencer a uma qualquer tribo, herdando os conflitos dos dirigentes dessa tribo e participando do tradeoff de lugares e promessas e expectativas de carreira. Não lhe custa muito perceber que neste meio circulam várias possibilidades de ter funções cujo estatuto, salário e poder são muito maiores e com menos dificuldades do que se tiver que competir no mercado do trabalho, e tiver que melhorar as suas qualificações com estudos e cursos mais árduos. Por via partidária, ele acede à possibilidade de ser muita coisa, presidente de junta, assessor, entrar para uma empresa municipalizada, ir para os lugares do Estado que as estruturas partidárias consideram “seus” como sejam as administrações regionais de saúde, escolares, da segurança social. E por aí acima…”

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6 respostas a Focos de Lucidez: Pacheco Pereira e as “Jotas”

  1. João Torgal diz:

    Assino por baixo sem hesitar.
    É este espírito jota, nomeadamente na JS e na JSD, que impera genericamente na política nacional : ZERO DE IDEOLOGIA, TUDO PELO TACHO.
    Bastou ver aquela cambada de jotinhas atrás de Paulo Rangel após a vitória nas Europeias, quais emplastros a ver qual deles aparecia mais, gritava mais alto e ficava melhor na fotografia, na lógica de acenar à direcção nacional da JSD em busca de um lugar de relevo, para ver como isto é a mais pura das verdades.

  2. Pedro Gil diz:

    Pode não se gostar do estilo, mas a verdade é que Pacheco Pereira é ainda uma das vozes mais lúcidas e inteligentes na direita portuguesa. No seu blog ele escreveu há algumas semanas um texto mais completo do que este sobre a “renovação” na política portuguesa e as “jotas”, essa praga de mediocridade e incompetência que torna ainda mais sombrio o já de si pouco animador futuro da política portuguesa. Deixo o link.

    http://abrupto.blogspot.com/2009/06/renovacao-que-se-exige-quando-churchill.html

  3. João Torgal diz:

    “Por exemplo, para mim, renovar é trazer para a política pessoas com vida e profissão, que tenham conhecido dificuldades, desilusões, derrotas, perdas, que sejam mais de carne do que de plástico. Há cada vez menos gente assim na política, à medida que nos partidos as jotas funcionam como incubadoras de carreiras semiprofissionais e profissionais de política”

    Nem mais

  4. José Maria Pimentel diz:

    Isso é mt bonito de dizer, mas não se esqueçam d q o essencial é a procura, independentemente da oferta. E a verdade é que os políticos de plástico vão sendo mais queridos pelo público que os de carne e osso. Basta ver a reacção que tu, Torgal, e a tua classe tiveram em relação à Ministra da Educação. Ela é má, sem dúvida, mas o juízo negativo foi feito cedo demais. Outro exemplo, por ventura melhor, é o do ‘malogrado’ Pinho, um homem que, se se descontar a sua completamente humana falta de jeito para as câmaras, até fez um bom trabalho naquela que é, talvez, a pasta mais difícil do governo. O problema era que, em vez se camuflar de umas frases de ocasião, decidia mandar o tão Tuga e humano ‘bitaite’, muitas vezes inoportuno.

    E quem é que criticava Pinho? Precisamente vocês, os mesmos que criticam as jotas por formarem políticos de plástico.

  5. João Torgal diz:

    Estás a confundir as coisas.

    Quando falo num político não ser de plástico, falo em ter um passado, um currículo, um caminho respeitável em termos profissionais, que tenha demonstrado claramente o seu valor e que, por isso, reconhecido esse valor, chegue a um cargo político em resultado do seu mérito pessoal. O que acontece é exactamente o oposto: crescem nas jotas, não são ninguém na vida, chegam, fruto dos favores certos, à política e, como prémio de se terem servido do país, são depois recompensados com um alto cargo, por vezes de natureza pública, que não é contestado fruto do bloco central de interesses que faz com que PS e PSD se protejam mutuamente.

    Quanto aos comentários de Pinho, isso é outra história. Sou completamente favorável a um certo estilo políticamente incorrecto, em oposição à formatação e ao estilo cassete (que Sócrates despeja ao sabor das conveniências), mas uma coisa é ser políticamente incorrecto com decoro, outra bem diferente é dizer grandes barbaridades ocupando um cargo de responsabilidade política. Desde as promessas infundadas de empregos na Delphi (que depois negou descaradamente ter efectuado), até envolver questões da vida pessoal de um deputado em plena AR (Bernardino Soares), fazendo-lhe cornos, passando pelo incentivo do investimento dos chineses em Portugal por causa dos baixos salários, é todo um passado de atitudes que ultrapassam todos os limites do razoável.

    Quanto à Ministra da Educação, a contestação não foi cedo, foi verdadeiramente tarde de mais. Em Julho de 2005, 4 meses depois da tomada de posse, a Dona Milu resolveu cortar na remuneração do estágio, sem diálogo, sem discussão e com efeitos imediatos nos pobres estagiários do ano lectivo seguinte. Fê-lo de má fé, à beira das férias para inviabilizar grandes protestos. Se na altura tivesse havido logo fortes medidas de contestação, talvez não se tivesse chegado ao que se chegou. Mas, na altura, como só uma minoria era prejudicada e genericamente os professores, exemplo da sociedade egoísta actual, não revelaram nem solidariedade para com os estagiários, nem horizontes para perceber os indícios economicistas do futuro da política educacional, ficaram caladinhos à espera e só reclamaram quando foram pessoalmente afrontados. O resultado está à vista…

  6. Paulo Pereira diz:

    Como concordo com Pacheco Pereira várias vezes, não me custa concordar mais esta. Temos os políticos que merecemos, num sistema partidário que aceitamos, numa democracia que se arrasta penosamente: basta vermos o nosso primeiro…tão competente como eng., que não teve pedalada para fazer mais projectos magnânimos (para quem?) como os que se conhecem.
    Quanto aos que “em ter um passado, um currículo, um caminho respeitável em termos profissionais, que tenha demonstrado claramente o seu valor “, temos o exemplo de rectidão de Helena Roseta que se alia ao PS…então os movimentos de cidadãos surgem porque os partidos não nos representam ou para os ajudarmos a conquistar poder????
    No que respeita á “Dona Milu”, concordo que é mesmo mto. má, mas nunca vi os professores a propor uma avaliação própria decente. resultado está à vista…

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