O espaço político nacional à direita do espectro tem-se caracterizado, desde o 25 de Abril, por uma antítese do seu equivalente à esquerda. A esquerda, por diversos motivos – mas especialmente devido à Revolução – cedo se pulverizou em partidos e partidozinhos. Qualquer contemporâneo (não é o meu caso) terá, decerto, a vívida memória desses tempos. Esta pulverização, altamente prejudicial para a esquerda no início, evoluiu para aquilo que podemos chamar hoje um sensato equilíbrio multipartidário. Temos o inevitável PC, a ‘nova esquerda’ do BE e o tradicional e moderado Partido Socialista (o equivalente aos partidos sociais democratas europeus). Este último tem, bem sei, um desequilíbrio, está demasiado inclinado para a direita. Não obstante este desequilíbrio reflectir uma já estudada tendência europeia (o ‘new labor‘), é também consequência dum problema bem nacional: a total desorganização do espaço político à direita.
E é aqui que eu quero chegar. A direita é vítima de vários factores. Talvez o principal seja o facto de ser fruto de uma revolução de esquerda que ainda hoje faz qualquer político ter vergonha de se assumir de direita (repare-se a ausência da vírgula, tal não é consequência sine qua non de uma revolução de esquerda). Para além disso, a nossa constituição tem a peregrina proibição sobre a formação de um partido fascista, facto que contribui para uma deslocação do espectro e para que qualquer fascista tome uma de duas decisões: Ou se mantém de parte, remoendo o seu saudosismo salazarista, ou se alista no partido mais lógico, o PP. Comecemos precisamente por este partido. O CDS-PP é – penso que todos concordamos – um partido democrático. No entanto, em virtude desta ‘peculiaridade’ do sistema, ninguém duvidará que é habitado por algumas aves raras ‘fascizantes’. Tal só pode ser negativo. Para o partido, naturalmente, e – talvez pior – para o sistema político. Para além disso, o PP tem dentro de si duas tendências distintas: os populares (Paulo Portas) e os democratas-cristãos (Ribeiro e Castro, entre outros).
À esquerda do PP, o PSD é outro caos semelhante, senão pior. A desgraça começa logo à entrada. A tabuleta diz ‘social-democrata’. Nome estranho para um partido de direita. Embora explicável historicamente, esta designação é hoje estapafúrdia, dando origem às mais engraçadas confusões no Parlamento Europeu. Mas adiante, não vale a pena perorar, ninguém se atreverá nunca a mudar o legado desse Semi-Deus, Sá Carneiro. Sejamos pragmáticos Outras peculiaridades são mais prementes. Tal como o PP, o PSD alberga populares e democratas-cristãos, embora talvez – cedo aqui – mais moderados que os seus equivalentes do PP. Para além destes, há ainda os chamados liberais. Mas esta é uma classe à parte, pouco definida (infelizmente) e pulverizada, com alguns exemplos também no PS e , até, no PP (Pires de Lima). Para além disso, é dificílimo identificar um verdadeiro liberal: Passos Coelho não o é, por certo! Mas não é aqui que quero chegar, por isso cinjamo-nos aos outros. Faria, a meu ver, muito mais sentido haver três partidos à direita (já que se decide optar por este sistema multipartidário, mas isso são contas de outro rosário…). Um partido democrata-cristão englobaria Cavaco Silva, Manuela Ferreira Leite, Ribeiro e Castro e Narana Coissoró, entre outros (alguém vê verdadeiras diferenças ideológicas entre eles? eu não. Nenhum é social democrata e muito menos popular. São, sim, democratas-cristãos do mais puro que existe). Outro partido recolheria os populares (Santana Lopes e Paulo Portas, por exemplo. A sua velha amizade reflecte precisamente a coincidência das posições). Finalmente, um último partido (com o fim da proibição sobre partidos fascistas) marcaria a posição ultra-conservadora.
Esta seria a minha proposta.
Alguns apontamentos:
– Era bom que os partidos se estruturassem em função dos seus ideais, numa lógica de reunir gente com sensibilidades diferentes, mas com uma visão global comum. Era bom, mas não é isso que se passa. Quando a lógica do poder pelo poder e de oportunismos pessoais fala mais alto…E com o tipo de Juventudes Partidárias que genericamemte temos por aí, a tendência não é seguramente para melhorar.
– Naturalmente que o partido do Portas e do Santana não deveria ser Partido Popular, mas sim Partido Populista. Ou seja, simplesmente não deveria existir. Tal como aliás qualquer partido ultra-conservador, de linhagem neo-fascista, não deve existir. Que sentido faz que exista num regime democrático um partido anti-democrático?
Bastante mais lógico seria a existência, tal como acontece em diversos países, de um partido liberal, mais de esquerda em termos sociais, mais de direita em termos económicos. Sendo eu uma pessoa francamente de esquerda, iria seguramente vociferar contra um sem número de coisas, nomeadamente ao nível da mercantilização de áreas como a educação ou a saúde, mas que em termos ideológicos faria sentido a existência de uma família política assim, lá isso faria. Achei estranho não referires a ausência desse partido, meu caro Zé, sendo tu um militante em potência do PL 🙂
Estamos muito mal quando alguem refere que um partido (com que não concordamos) deve ser proibido…Ou se defende uma democracia, e temos que mudar a forma como somos representados (acabamos com TODOS os partidos), ou somos pela continuação deste sistema pseudodemocrático, e devemos aceitar todos os partidos.
NOTA 1. o partido que melhor representa uma democracia é um partido populista porque a maioria da população é assim- limitada
NOTA 2. TIQUE DE ESQUERDA: ditadura de direita/fascismo não é boa, mas a ditadura de esquerda/socialismo/comunismo já é boa.
NOTA 3. liberais??….depois desta crise??……
NOTA 4. sem partidos, sim!!! com a tecnologia de hoje,sóo pq não querem os ditos partidos.
NOTA 3. liberais??….depois desta crise??……
Calculo, pelo menos, que não ache que deveria ser proibido, não?
1. “Naturalmente que o partido do Portas e do Santana não deveria ser Partido Popular, mas sim Partido Populista. Ou seja, simplesmente não deveria existir.”
Não. Populista é simplesmente um termo depreciativo para caracterizar uma vertente que existe, a vertente popular. Quanto à proibição, para além de não ver razões para se proibir um partido simplesmente porque não se gosta de quem lá está, não faria sentido, tendo em conta o número de militantes em potência desse putativo partido.
2. “Que sentido faz que exista num regime democrático um partido anti-democrático?”
Faz todo o sentido. Mas até estou disposto a ceder aí. Mas, então, acabemos com o PC. Eheh.
3. Não desenvolvi (embora o tenha referido) porque já o fiz antes e não era a ideia central do post. De facto, seria um militante em potência. Infelizmente, não vejo massa para formar tal partido, pelo que quase nem exemplos tinha. Basta pensar, num país marcadamente conservador – economica e socialmente – como pode haver um partido que se atreve a ser social em ambas em vertentes (sem compensar numa, como os outros fazem)?
Mas sim, é uma pena não haver um partido desses. Tenho esperança que, com o tempo, tal ideia venha, pelo menos, a ser falada!