Durão Barroso parece cada vez mais o provável sucessor de si próprio no comando da União Europeia. Comando? Nem tanto. O mandato de Barroso deve ser analisado cuidadosamente. É difícil afirmar que falhou redondamente. Houve, na verdade pouco para mostrar. E, por conseguinte, pouco para mostrar falhas. O episódio mais marcante foi o do Tratado Europeu. Perdeu-o. Mas não considero que tenha sido por culpa própria. Ou, pelo menos, não apenas por culpa própria.
O facto de aquele ser, destacadamente, o evento mais relevante do seu mandato, aquele em que a sua influência mais se notou, é revelador. O problema de Durão Barroso é precisamente esse. É demasiado discreto, indeciso, pouco interveniente. Dou de barato que, quando iniciou funções, não era absolutamente claro o que se exigiria dele ao longo do mandato. Hoje, porém, em tempos de crise, seria fundamental ter um líder claro e interventivo que soubesse não só encontrar uma solução coordenada para a recessão, mas, principalmente, capitalizá-la de modo a lograr que a União Europeia desse o tão anseado salto em frente. Barroso não o fez. Pelo contrário, manteve-se mudo e quedo (a única excepção foi o plano Brown, efémero). Acontece que, para que a União Europeia avance, é condição sine qua none contar com um líder claro. Durão é a antítese de tal fugura. Foi, aliás, um líder tão discreto que até Sarkozy, durante os curtos 6 meses que o caricato sistema em vigor oferece, se conseguiu sobrepor como figura de proa da Europa.
A União Europeia já deu, ao longo da sua história, vários passos. O mais recente, a adopção do euro, foi o levantar de um pé. Mais tarde ou este pé tem que voltar a ser poisado (sim, eu sei, estou-me a entusiasmar com a metáfora!), e aqui põe-se a maior dúvida. De volta ao ponto de partida ou meio metro à frente? Para conseguir concretizar o passo é fundamental maior integração política. Esta apenas é possível com um líder claro. Um primeiro-ministro, não um Presidente da República, como no modelo actual.
Um segundo mandato de Durão Barroso como Presidente da República parece, agora, contudo, inevitável. Como tal, parece difícil que este mandato concretize um reforço dos poderes do cargo. No caso de esse reforço ser conseguido por vias alheias ao Presidente da Comissão Europeia, só desejo que não se concretize a ameaça e que Durão não seja eleito Presidente do Conselho Europeu. Estou convencido que não. Felizmente. Uma boa aposta: Sarkozy.
Começas tão bem, e acabas tão mal(Sarkozy?).
Espero que esse sentimento em relação ao Durão Barroso não te faça votar nele, seja qual for a eleição a que ele se candidate. Ele não merece. Esse homem não merece nada. Nem ser Presidente da Comissão Europeia, nem Presidente da República, nem Presidente da Câmara de Mirandela.
Eheh, já antevia essa reacção em relação à sugestão. Sarkozy desempenhou o cargo de Presidente do Conselho Europeu com uma eficiência notável!
josé: na mouche.
Zé, não te esqueças que esta eficiencia – que existiu relamente – se deveu em muito à fraca prestação enquanto presidente francês. Todo ele era rock star living, como constatavam jornais por todo o mundo, até então.
Abraço
ps: Conselho Europeu é diferente de Conselho da União Europeia ;p
Lá por haver forma – por ventura demais – não quer dizer que não houvesse substância. Que havia. Ele teve inúmeras vitórias, isso é inegável. Aliás, o homem tinha tanto ‘fogo no rabo’ que até depois de sair – já no mandato do Primeiro-Ministro esloveno – ainda foi dar uma mãozinha a Israel. E eu sou o primeiro a admitir que o homem não tem sido um grande presidente francês. Aliás, acho que a vocação dele é precisamente para líder internacional.
P.S. Bem vindo!
P.P.S. Já agora, tira-me a dúvida, qual é que eu queria dizer, então?
Sim, concordo. Ele foi claramente o capitão de um barco sem capitania. Não me esqueço do papel de Sarkozy a quando o conflito entre a Georgia e a Russia, nunca a UE negociou tão prontamente um conflito nem mesmo nos balcãs.
O Conselho da União Europeia é uma instituição para tomadas de decisão, assumindo papel legislativo. Exactamente aquele que te querias referir. O Conselho Europeu é uma reunião ao nível de chefes de estado funcionando mais como uma catapulta de ideais convergentes entre os Estados, e bem importante que é. Afinal ainda é no conhaque que a malta se entende.