Qualquer pessoa que tenha lido o “1984” de Orwell ficará surpreendido com a quantidade de semelhanças que existe entre o Estado retratado no livro e com a Coreia do Norte. Devo dizer que ultimamente me tenho dedicado a conhecer com mais detalhe este Estado. E a conclusão a que qualquer pessoa chega é a óbvia: é urgente uma intervenção de desmilitarização na Coreia do Norte e de libertação do povo norte-coreano. O problema que se põe é este: ao contrário do que poderia contecer noutros estados, uma guerra com este país contaria certamente com uma forte resistência popular. A população é obrigada a visitar museus militares onde lhes é fornecida uma visão totalmente distorcida da História. O inimigo é sempre o mesmo – o capitalismo – e a sua face são os EUA. Quem quiser visitar a Coreia do Norte (hoje é possível, desde que acompahado por “dois guias” e um motorista que selecionam criteriosamente aquilo que é mostrado) deve omitir a todo o custo o facto de ser americano ou de pretender visitar os EUA num futuro próximo. A “juche” está tão enraizada na população que não é possível fazê-la crer em nada que se lhe oponha.
Para que se perceba melhor qual o ponto de vista de um norte-coreano, imagine o leitor uma vida dedicada a ouvir as virtudes divinas do líder de um povo. Às crianças é ensinado na escola que no dia em que Kim Jong Il (filho de Kim Il Sung) “vários arco-íris surgiram e uma estrela nova nasceu no céu”. Dezenas de fábulas semelhantes a esta são contadas nos museus e bibliotecas e cantadas nas escolas. Periodicamente, realizam-se os “Arirang Mass Games”, em que participam milhares de norte-coreanos numa demonstração doentia de adoração pelo seu “dear leader” e de pretensa grandiosidade (um dos mais altos hoteis do mundo localiza-se em Pyongyang, estando a sua construção parada desde meados dos anos 80, graças à inobservância de qualquer progrsso económico). A cidade é enfeitada com dezenas de monumentos que coexistem com bairros inteiros sem electricidade. No meio de Pyongyang e em outras cidades da Coreia do Norte visitam-se gigantescas estátuas de bronze de Kim Il Sung, em que qualquer pessoa (mesmo sendo turista) deve colocar flores. Não há qualquer contacto com outras nações (a não ser no “Palácio dos Presentes”, em que figuram centenas de presentes supostamente ofertados por todas as nações do mundo e informações como “o mundo inteiro chorou a morte de Kim Il Sung”), não há internet, rádio, jornais, nem televisão (estes são totalmente controlados pelo Estado e usados como meio de “educação”). A qualquer turista que entre na Coreia do Norte é-lhe confiscado o telemóvel e analisado o computador. No entanto há aspectos curiosos: há norte-coreanos que conseguem sair (para a Rússia, por exemplo) e que regressam. O que significa que não há um mínimo de descrença no que lhes é transmitido.
Como se pode alertar uma população disposta a sacrificar-se pelo seu “great leader” e pelo seu “grandioso” país? Não se pode. Mas o mundo não pode viver à mercê de um arsenal militar como o da Coreia do Norte. Se já se aplicaram sanções, são necessárias mais sanções. Invadiu-se o Iraque por menos. A “Human Rights Watch” coloca a Coreia do Norte em pé de igualdade com o Sudão (Darfur). Vive-se nela uma crise uma crise humanitária de dimensão inimaginável. Até quando poderá o mundo fechar os olhos à prepotência de Kim Jong Il? Até quando viverão os norte-coreanos sem nenhum dos direitos mais elementares de qualquer povo?
Para obterem mais informação sobre a Coreia do Norte:
– Página oficial da Coreia do Norte;
– Um extraordinário relato de viagem de comboio de Viena até Pyongyang (entrada pela Rússia);
– Relato de viagem de um visitante;
– Documentário impressionante e completo (53mn – You Tube)
– Relatório da Human Rights Watch sobre as condições de vida das crianças norte-coreanas.
Disponível offline:
– “Under the Loving Care of the Fatherly Leader”, Bradley K. Martin (Amazon);
Este país exerce sobre mim uma efeito que desperta uma certa curiosidade infantil. Como é possível? Como é possível manter em pleno secXXI um país (quase) completamente isolado?
Mas acho que muito disto nos é totalmente incompreensível, na verdadeira acessão da palavra. A cultura oriental é muito diferente da nossa. Parece haver uma completa ausência de consciência individual.
É impressão minha ou não há, que conste, dissidentes? Ou seja, há algum relato de oposição interna? Calculo que a tenha havido, silenciada. Mas não deixa de ser estranho que não passe minimamente para fora das fronteiras.
P.S. Há uma coisa que me intriga e tenho que perguntar: porquê as expressões em inglês? O homem é norte-coreano!
Lê isto:
http://www.ft.com/cms/s/0/34b76c84-0e76-11de-b099-0000779fd2ac.html
Não é bem o que defendes, porque este foca-se mais em evitar que aqueles loucos desatem a usar o poder nuclear, não ponderando sequer uma intervenção externa.
De qualquer forma, é bom estar de olho nestes tipos, porque a doença do líder pode precipitar algumas coisas num futuro próximo (nem que seja apenas a mudança de ocupante do posto!).
Não resisto: com o homem doente, é caso para dizer que faz jus ao nome que tem: Kim Jong Il(l) :p
Em abril toma posse o 3o filho do Kim Jong. É algo polémico porque este filho cujo nome nao me lembro (tb é kim qq coisa) fez os estudos na europa (suiça) e parece que é algo viajado. Quanto a mim, duvido que o tenham nomeado por ser um espirito aberto, se o é efectivamente.
A última vez que tinha visto (para aí há dois dias) isso era só um rumor! Os ‘mai velhos’ parece que não agradam ao pai. Um deles foi apanhado a tentar entrar no Japão, ou lá o que foi.
Mas realmente não deixa de ser estranho que, como o APN disse, mesmo os que saem voltem ‘imaculados’. Muito estranho, mesmo!
Quanto aos que saem e voltam, vi uma vez um documentário bastante encurtado, acerca dos prisioneiros políticos que fugiam para a China. Curiosamente, as autoridades e o governo chinês não acolhem refugiados da Coreia do Norte…
Bem, as imagens que se viam não os mostravam a voltar “imaculados”. Mostravam cinco ou seis polícias a imobiliza-los no meio da rua (alguns de pijama em fuga) depois de terem perdido o folego a ser perseguidos. De seguida entravam numa carrinha a gritar desalmadamente. Embora, muito a apelar ao sentimento e à compaixão, acredito que tal desespero significasse que sabiam muito bem os carinhos que iriam receber quando voltassem à sua Coreia de origem.
Para além disso, mostra que a China, embora seja um país porreirasso onde, ao bom estilo texano XXI, até Coca Cola se bebe e pacifistas se espancam (não amigos de Woodstock, mas sim do Tibete), não se incomoda muito com a situação na Coreia do Norte (antes pelo contrário, se podem, até lhes dão uns jeitinhos como este)
Mas aqui não se falava nos prisioneiros políticos (acho eu). Falava-se de quem sai normalmente e volta pelo próprio pé.!
Exacto. Norte-Coreanos que viajavam até à Rússia e que voltavam pelo seu próprio pé, carregados de caixotes de cartão (provavelmente com bens “ilegais” na Coreia do Norte – o jornalista também não conseguiu identificar o seu conteúdo): das duas uma: ou têm realmente a “juche” e o pensamento confuciano tão enraizado que acreditam piamente que não há melhor, ou têm medo de serem apanhados como imigrantes clandestinos e deportados, o que lhes valeria certamente um bilhete sem regresso para um campo de trabalhos forçados…
Podem consultar aqui algumas localizações de campos de concentração espalhados por toda a Coreia do Norte:
http://www.hrnk.org/hiddengulag/toc.html