Ah, valente!

Paulo Rangel merece um elogio. Mais que isso, merece um louvor! Já aqui várias vezes me insurgi contra o aproveitamento desesperado que os partidos da oposição normalmente fazem dos fait-divers que afectam o governo.

Bem sei que o caso Freeport pode não ser exactamente um fait-divers. Ainda assim, é de louvar a atitude de Paulo Rangel:

“Não ouvirá de nós nunca qualquer instrumentalização deste tipo de situação.”

Depois de várias críticas – merecidas – o elogio merecido.

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5 respostas a Ah, valente!

  1. João Torgal diz:

    Ou isso… ou também estão lá metidos e têm medo que se saiba.

    Basta ver a forma como se protegeram uns aos outros no caso BPN, para ser motivo de desconfiança.

  2. Pedro Gil diz:

    Bem, lamento dizer-te mas estás a ser um pouco ingénuo…no mínimo.

    O PSD não pode nem deve aproveitar politicamente este assunto por 2 razões fundamentais:

    1. Caso o desenrolar das investigações e a pressão política do caso levasse à demissão de José Sócrates, o PSD seria igualmente afectado. Por uma simples razão: tanto o senhor Paulo Rangel como a própria Manuela Ferreira Leite sabem que neste momento não conseguem vencer Sócrates. Nem ele nem o seu substituto que o PS eventualmente pudesse nomear de entre os notáveis (António Costa, por exemplo). Ferreira Leite neste momento não tem capacidade para cativar o eleitorado para uma vitória; é uma verdade incontornável. O melhor que o PSD tem a fazer é conservar este caso em lume-brando enquanto se aproximam as eleições, deixando Sócrates afundar-se lentamente em vez de se precipitar a exigir uma demissão. É preferível deixar a figura política de Sócrates extinguir-se lentamente enquanto se consome o fósforo do que querer logo apagar a chama com um sopro forte. Ferreira Leite e o PSD precisam de tempo.

    2. Em segundo lugar, e esta perspectiva pode não ser tão óbvia, esta “atitude louvável” como tu lhe chamas assenta num certo corporativismo que existe na nossa classe política. Eles protegem-se uns aos outros quando os interesses são comuns. Como muitas pessoas também já sugeriram, este tipo de corrupção junto do poder político como o caso Freeport paga-se através do financiamento dos partidos. As “luvas” de que tanto agora se fala na maioria das vezes não passa por um bonito carro ou umas férias pagas para o ministro ou secretário de estado; este tipo de favores (infelizmente tão comum no lobby da construção civil) paga-se através do financiamento dos partidos, com doações anónimas ou nem tanto. E em relação a isto PSD e PS estão juntos no mesmo barco. Basta recordar a recente polémica com a “Lei do Financiamento dos Partidos Políticos e das Campanhas Eleitorais” apresentada em conjunto no Parlamento por…acertaram: PSD e PS. Aliás, tal como o Torgal bem referiu, o silêncio do PSD em relação ao desastre do BPN chegou a ser ensurdecedor uma vez que a grande maioria dos ex-administradores do banco eram sociais-democratas. Desengane-se quem acredita que a Oposição está ali para cooperar com o Governo nas áreas fundamentais e contestá-lo em defesa da população. A Oposição trabalha unicamente para se salvar a si própria e poder chegar o mais rápido possível de novo ao Governo.

    Não me vou pronunciar sobre o caso em si uma vez que seria precipitado. No entanto, é inegável que em qualquer outra democracia um caso destes iria gerar um enorme escândalo. Em Portugal, tem de vir a polícia inglesa pedir para que as coisas sejam investigados enquanto o PM chora que está a sofrer uma cabala e que “não é assim que o vão vencer”. E a verdade é que os comunicados oficiais sucedem-se (então o de hoje foi um exercício desnecessário, humilhante e desprestigiante) e José Sócrates ainda não conseguiu explicar convenientemente um facto: o processo de alteração da Zona de Protecção Especial do Estuário do Tejo (ZPE) foi aprovado apenas três dias antes das eleições de 2002, depois de ter estado parado praticamente durante um ano. A aceleração do processo ocorreu em paralelo com a maratona que levou, no mesmo dia, à aprovação da Avaliação de Impacte Ambiental do Freeport de Alcochete. Coincidências?

  3. Miguel Pessoa Vaz diz:

    Gil, eu não diria melhor. Concordo em absoluto.

  4. francisco diz:

    Concordo com o Gil. Mas há uma falha de fundo. Estamos tão corrompidos em matéria de confiança (traumatizados, se preferem) que nem quando há um sinal positivo conseguimos reconhecê-lo, temos de o catalogar de imediato com um ressentimento de gato escaldado. Mais que compreensível. Apesar de tudo, acho que exageramos, ao ponto de (segundo tenho lido em comentários de leitores de vários blogues) se chegar ao ponto de estranhar que o PSD tenha sido elegante nesta questão, adivinhando-se cumplicidades estranhas debaixo dessa mostra de civilidade. Ou então, como aqui leio acima, considerar que é o corporativismo de classe, sem mais.
    Errado.
    É injusto não reconhecer que o PSD, MFL e PR (entre outros) tinham outras escolhas e optaram por proceder assim, de maneira decente. Qual o problema em aplaudir? As atitudes ainda são atitudes e valem por si, sem suspeições (quando não há razão para elas).
    Por isso não concordo nada com o adjectivo “ingénuo”, quanto ao post. Pelo contrário, acho descomplexada a apreciação e pouco “portuguesa”: nós não descansamos enquanto não metemos tudo no mesmo saco, pessimista e preconceituoso.
    Mas essa mania é uma falta de liberdade como outra qualquer.

  5. José Maria Pimentel diz:

    Antes de mais, devo dizer que tenho enormíssimas reservas em relação a todas as interpretações políticas que tentem divisar estratagemas maquiavélicos por trás de coisas que têm, na verdade, (e apenas quando o têm) explicações mais simples.

    Aliás, isto é tão engraçado que eu já ouvi a opinião precisamente oposta á tua…

    Guiemo-nos, então, pela lógica:

    1. Ora vamos lá ver…suponhamos que o caso se torna tão claro e as provas tão evidentes (passo a redundância) que o PM é obrigado a demitir-se e a precipitar eleições. Isso seria, portanto, na tua opinião, mau para a MFL?

    Atenção que eu concordo com a ideia de que Sócrates deseja eleições antecipadas, para ter mais hipóteses de ganhar. Mas isso é em circunstâncias normais, nunca no caso de essa precipitação ser motivada por altas suspeitas sobre ele… Aí, o Ps lixava-se!

    Também já ouvi outra versão, com mais lógica, de que Sócrates quer demitir-se, precipitar eleições, para depois, no fim, ser revelado que ele é inocente e ganhá-las por maioria absoluta.

    2. Quanto ao corporativismo:

    “preso por ter cão, preso por não ter.”

    No entanto, concordo. E o exemplo do BPN é paradigmático, sim. Mas vamos ver…não gosto de tirar conclusões precipitadas e prefiro achar que o Paulo Rangel e a MFL cumpriram, por uma vez, a regra de conduta que tão moralisticamente apregoam.

    3. Quanto ao último parágrafo, concordo completamente. Aliás, eu até acho que o homem faz bem em fazer comunicados. Mas seria para se explicar…não para se “carpir”!

    4. Como dá para perceber, fui escrevendo a resposta à medida que lia os comments…escusado será dizer que faço minhas as palavras do Francisco.

    Não diria melhor, é muito portuguesa essa apreciação, e não custa nada elogiar… Eu gosto!

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