Morreu no passado domingo, vítima de cancro, o músico João Aguardela, com apenas 39 anos. Com uma carreira em crescendo, começou por se destacar nos Sitiados onde resolveu envolver a música tradicional com uma linguagem rock. O grupo obteve um sucesso assinalável (quem não se lembra do grande exito “Esta vida de marinheiro”?), mas o resultado musical, muito marcado pelos trejeitos de voz do Aguardela e por um produto final com uma certa estrutura cómica, esteve longe de me satisfazer. Mais tarde viria a criar um projecto pessoal chamado Megafone em que aliava, de forma crua, recolhas de raiz da tradição portuguesa com sonoridades electrónicas,diversas. Um projecto curioso e que primava pela tentativa, ainda muito pouco explorada, de fazer chegar a música tradicional a um novo público, através da fusão com linguagens sonoras mais modernas.
No entanto, o brilhantismo maior estaria guardado para o seu mais recente projecto. Depois de criar com Luís Varatojo (Peste & Sida, Despe & Siga) os Linha da Frente (não conheço), responsáveis por musicar grandes poemas da literatura nacional, contando com um leque diverso de intérpretes vocais, esta dupla criativa resolveu prolongar a sua colaboração, fundando A Naifa. Juntamente com a grande voz de Maria Antónia Mendes e com a bateria de Vasco Vaz (entretanto substituído por Paulo Flores), o grupo foi um dos pioneiros na criação do “novo fado”. Assim, pegando numa base fadista, mas juntando-lhe beats electrónicos, linhas de baixo pulsantes (a cargo de Aguardela), alguma percussão e uma sensibilidade pop deliciosa, o grupo lançou 3 grandes discos, o último dos quais, Uma Inocente Inclinação para o Mal de 2008, foi um dos grandes lançamentos do ano passado.
Para recordar, apresento-vos o fabuloso “Señoritas” do segundo disco d’A Naifa: 3 Dias Antes da Maré Encher de 2006.
Até sempre!